Fármaco pode reduzir efeitos metabólicos da quimioterapia

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas realizaram testes nos quais o fármaco se mostrou efetivo na redução de perda de tecido adiposo e massa muscular, causada pela quimioterapia

Ampolas de quimioterapia - Imagem: Wikimedia Commons

Perda de força, perda de músculos, disfunção metabólica e perda de tecido adiposo: esses são apenas alguns dos efeitos colaterais da doxorrubicina, um dos quimioterápicos mais utilizados para combate ao crescimento tumoral em pacientes com câncer. Para minimizar esses sintomas — também denominados de caquexia —, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP estudaram diferentes tratamentos, envolvendo ou não o uso de fármacos. O estudo demonstrou mais sucesso com a pioglitazona, medicamento antidiabético comumente utilizado em práticas clínicas. Apesar de não solucionar completamente o problema, o tratamento com pioglitazona se mostrou efetivo na melhora da qualidade de vida dos pacientes durante o tratamento.

José Cesar Rosa Neto, chefe do Laboratório de Imunometabolismo – Imagem: Divulgação/Site/Instituto de Ciências Biomédicas da USP

Os testes clínicos foram realizados em ratos, divididos em quatro grupos: tratados apenas com pioglitazona; tratados apenas com doxorrubicina; tratados com uma combinação de pioglitazona e doxorrubicina; e o grupo controle, que recebeu apenas uma solução salina periodicamente. Os grupos que receberam o tratamento de pioglitazona se mostraram parcialmente protegidos contra a perda de tecido adiposo, além de sofrerem menos hipoglicemia. “As células adiposas precisam da expressão da proteína PPARγ para que possam se proliferar, ou seja, se diferenciar em outra célula adiposa. A quimioterapia bloqueia essa diferenciação, fazendo com que o paciente não tenha a formação de novas células do mesmo tipo”, explica José César Rosa Neto, chefe do Laboratório de Imunometabolismo do ICB e pesquisador-chefe do estudo. A pioglitazona é responsável por reativar as vias moleculares reguladas pela PPARγ, de forma que a perda de gordura é minimizada. “Muita gente tem aquela ideia de que ter uma quantidade alta de células adiposas pode ser ruim porque engorda, mas é justamente o contrário. Os adipócitos saudáveis são os pequenos, o que significa que quanto mais deles houverem, menores eles serão”. O pesquisador explica que a massa de lipídeo a ser armazenada é a mesma, mas se houverem menos células, elas terão que ser maiores e, portanto, menos saudáveis, trazendo complicações relacionadas à obesidade.

Células adiposas subcutâneas observadas nos camundongos modelo. É possível observar que o tratamento com pioglitazona — com ou sem doxorrubicina — apresenta adipócitos menores. – Imagem: Arquivo pessoal/José Cesar Rosa Neto

Segundo Rosa Neto, os animais que receberam a pioglitazona — tanto isolada quanto em combinação com a doxorrubicina — apresentaram uma produção mais intensa de células adiposas, em especial na região subcutânea, região que concentra tecido adiposo saudável. “Esse aumento possibilitado pelo fármaco também regulou a produção hormonal nos ratos, prejudicada pelo quimioterápico”, completa. A produção de hormônios como a adiponectina — que atua como redutor da resposta inflamatória sistêmica —, e a leptina — responsável pela regulação do apetite — é essencial para o bom funcionamento do corpo e metabolismo do paciente, prejudicada pela quimioterapia.

Qualidade de vida

O tecido adiposo é um dos maiores reservatórios de energia utilizada no metabolismo. Dessa forma, os pacientes já fragilizados pelo tratamento têm sua qualidade de vida cada vez mais deteriorada em função da perda de gordura e consequente prejuízo metabólico. Rosa Neto também explica que tanto o tecido adiposo quanto muscular são chave na captação de glicose, além de serem os mais responsivos à insulina. “A perda intensa de qualquer um desses dois tecidos deixa o paciente mais propenso a desenvolver uma resistência à absorção de insulina e consequentemente, um quadro hiperglicêmico”.

Até o momento, os estudos foram realizados unicamente em animais. Futuramente, Rosa Neto e sua equipe pretendem iniciar os estudos em pacientes oncológicos humanos, plano que foi adiado em razão da pandemia de COVID-19.

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