Como a renda familiar pode impactar nas escolhas de carreira dos jovens

Estudo aponta que pessoas entre 16 e 29 anos podem alterar suas perspectivas de trabalho em casos de mudanças na economia da casa

A decisão dos filhos entre estudo, trabalho ou nenhum dos dois tende a ser pressionada para atender as necessidades da família [Foto: Freepik]

Uma pesquisa da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP aborda como uma mudança na empregabilidade dos pais pode afetar nas decisões de carreira dos filhos. Com o título O impacto dos choques laborais parentais nas decisões dos jovens, o artigo analisa tanto choques negativos, em que o pai perde o emprego subitamente, como choques positivos, quando o pai entra em um novo emprego, seja em trabalhos formais ou informais. 

Por meio de bases de dados em domicílio, a dissertação da mestra em Economia, Júlia Maranhão, busca entender como uma mudança na renda familiar acaba por pressionar ou aliviar a decisão do jovem de estar empregado, seja com carteira assinada ou não. O grupo selecionado foi jovens entre 16 e 29 anos cujos pais sofreram choques laborais durante 2012 a 2019. O projeto foi desenvolvido com o apoio do Imds (Instituto mobilidade e desenvolvimento social).

Contribuições à ciência

Solange Ledi é professora na pós-graduação da FEA na disciplina Economia do Trabalho e orientou Júlia na elaboração de sua pesquisa. Segundo ela, a maior contribuição desta análise está na linha do Added Worker Effect, que é quando um impacto na renda da família força algum membro a entrar no mercado de trabalho. A abordagem tradicional é observar esse efeito em demissões em massa, como em períodos de crise e recessão econômica, mas Júlia e Solange buscaram por uma visão familiar, ainda pouco explorada na pesquisa nacional.

A metodologia empregada também apresenta inovações. A principal base de dados utilizada pela pesquisadora é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNADc), ainda pouco explorada em algumas pesquisas científicas. O painel mais comum em projetos semelhantes é a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), que utiliza informações do setor formal para datar o fluxo do mercado de trabalho.

Por conta do Brasil ser uma “economia fortemente marcada pela informalidade”, Julia optou por utilizar a PNADc, que cobre também essa esfera do mercado de trabalho. Uma desvantagem está no curto período de análise, cerca de cinco trimestres, em relação a Rais, que capta informações continuamente, desde que o trabalhador se mantenha empregado formalmente.

Resultados

Para os choques negativos, quando a mãe ou o pai fica desempregado ou inativo abruptamente, a probabilidade de o jovem estar empregado aumenta, tanto no setor formal quanto no informal. Ou seja, pessoas de 16 a 29 anos tendem a ser chamados para o mercado de trabalho para equilibrar a renda domiciliar. Isso significa que em momentos de crise econômica, os filhos podem entrar para o mercado de trabalho mais cedo e acabar por paralisar os seus estudos ou sair da inatividade.

Em relação aos choques positivos, quando a mãe ou o pai fica empregado, os jovens tendem a sair do mercado informal, porém não é possível afirmar o mesmo para o trabalho formal. Isso pode significar que em momentos de prosperidade da renda familiar, os filhos podem se afastar da informalidade. Mas os benefícios e a segurança do trabalho formal podem também ser um atrativo para o jovem se manter empregado, o que pode justificar um resultado inconclusivo para os trabalhos com carteira assinada. 

Alguns fatores socioeconômicos podem intensificar os resultados. “Pessoas que estão em grupos mais favorecidos possivelmente têm mais riqueza acumulada, e podem acessá-las assim que tiverem uma perda de emprego”, afirma Júlia. Fatores como raça, gênero e nível de escolaridade da mãe podem afetar a sensibilidade da família a um choque laboral. 

Júlia diz que os resultados “corroboram para mostrar que os jovens se movimentam para mitigar os efeitos de renda que acontecem com as movimentações de emprego dos pais”. Solange tece elogios sobre as contribuições da análise e diz que pretende levar a pesquisa adiante: “É uma agenda muito boa, ninguém investigou da forma que ela investigou.”

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