Aplicativo auxilia no tratamento de possíveis contatos com HIV

Tecnologias avançam no combate à contaminação pelo vírus da Aids, mas o desafio está na democratização da informação e tratamento

Mandala da Prevenção Combinada do HIV. [Imagem: Reprodução / Ministério da Saúde]

A aids, infecção sexualmente transmissível causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), foi descoberta na década de 1980 e, desde então, uma epidemia se espalhou mundialmente. Mais 33 milhões de mortes pela aids já foram registradas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e junto delas, uma série de marcas no imaginário popular. 

Atualmente, no Brasil, a doença atinge mais de um milhão de pessoas, principalmente, a população entre 25 e 39 anos, segundo os dados do Ministério da Saúde. Apesar do cenário ainda epidêmico dos casos, é possível observar um notável avanço nas tecnologias  de tratamento que possibilitaram uma melhor qualidade de vida para as pessoas que convivem com o HIV. 

A pesquisa Construção de um aplicativo móvel para Profilaxia Pós-Exposição ao HIV se relaciona diretamente com a evolução das formas de tratamento da infecção sexualmente transmissível nas últimas décadas. 

Lucia Yasuko Izumi Nichiata, professora da Escola de Enfermagem (EE) da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do grupo Vulnerabilidade, Adesão e Necessidades em Saúde Coletiva da EE, explica que o aplicativo foi desenvolvido com o objetivo de informar os profissionais de saúde sobre a profilaxia pós-exposição. 

Desenvolvimento do aplicativo

O estudo se baseou em um processo de produção tecnológica, entre 2016 e 2018, e desenvolveu o aplicativo PEPtec. O recurso, para aparelhos móveis, dispõe de um banco de dados sobre as chamadas “Profilaxias Pós-Exposição (PEP)” ao HIV, usadas em casos de emergência após um possível contato com o vírus. O tratamento consiste no uso diário de doses orais de antirretrovirais, durante um período de 28 dias, com a indicação para serem iniciados, preferencialmente, em 2 horas e até, no máximo,  72 horas após a possibilidade de contaminação. 

O início da carreira de Lucia como pesquisadora relaciona-se diretamente com o período crítico do começo da pandemia do HIV no final da década de 1980. Seu estudo, dessa forma, concentrou-se nas doenças transmissíveis e, em especial, suas medidas de prevenção. “As formas de prevenir o HIV avançaram muito, no passado, só se tinha o uso do preservativo como alternativa e, hoje, já existe um leque de opções e tecnologias, que denominamos de ‘Mandala da Prevenção Combinada do HIV”, afirma a professora. 

Objetivos do PEPtec

Como parte dessa gama de métodos preventivos e dentro da sua área de pesquisa, o interesse pelo desenvolvimento de um aplicativo que informasse os possíveis tratamentos PEP – métodos reconhecidos pela OMS e já utilizados no Brasil desde 2010 – partiu de uma necessidade prática e real dos profissionais de saúde. A especialista explica que o aplicativo auxilia o profissional a identificar formas de atuar em relação à prevenção do HIV para quem pode ter entrado em contato com o vírus. 

Além de auxiliar na orientação para os pacientes, a ferramenta também visa atingir os próprios agentes de saúde que podem passar por situações de possível exposição ao vírus. “Podemos dizer que a educação permanente para esse profissional beneficia a sociedade, na medida em que ele está bem capacitado e informado sobre a tecnologia da PEP”, avalia. 

Tecnologias e desafios

Outra alternativa também presente na Mandala de Prevenção Combinada do HIV são as Profilaxias Pré-Exposição (PrEP), um método preventivo que já condiciona o corpo a estar preparado para combater um possível contato com o vírus. O Brasil, na visão de Lucia, possui uma grande capacidade de desenvolver tecnologias voltadas para o combate à AIDS, mas ainda carece de políticas públicas que as disponibilizem à sociedade, principalmente, às parcelas mais vulnerabilizadas. 

“Você pode desenvolver tecnologias fantásticas, mas o maior desafio está em fazer essas tecnologias chegarem até as populações mais vulneráveis”, destaca a pesquisadora. 

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