Estudo sobre hipotensão na fase inicial da sepse também mira medicina personalizada

Diferenciar e estudar estágios dessa condição é importante para oferecer melhor tratamento e mais dados nessa área

Medição da pressão arterial. [Imagem: Reprodução/Pixabay]

“Quando a cabeça não pensa, o corpo padece.” Se levarmos esse ditado de forma literal, ele está errado: é possível padecer, mesmo pensando. A sepse é uma dessas formas e, além da sua gravidade, possui um acréscimo que mantém essa situação: a queda na pressão arterial.

Uma pesquisa publicada na revista científica PNAS Nexus em janeiro deste ano procurava mostrar que existe uma diferença nos mecanismos causadores da queda na pressão arterial — também chamada de hipotensão — durante a sepse. 

“Sepse, em termos simples, é uma infecção que impõe risco de morte. Qualquer infecção que evolui para uma forma grave entra na categoria de sepse”, explica o professor Alexandre Steiner, do Laboratório de Neuroimunologia da Sepse do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) e um dos responsáveis pelo estudo.

O porquê da pesquisa

Steiner explica que, hoje em dia, a hipotensão nesse cenário é tratada como um único fenômeno cuja causa seria a falência dos vasos sanguíneos, ou seja, eles perdem a capacidade de manter o tônus vasomotor — estado de contração parcial. Porém, segundo os resultados da pesquisa, isso é colocado em dúvida.

Conforme o professor, ela não é um único fenômeno, mas é “uma constelação de fenômenos mecanisticamente distintos que acontecem numa sequência temporal durante a sepse”. “Estamos identificando que é muito mais dinâmico: o denominador comum é a queda na pressão arterial, mas o que está causando-a muda conforme a sepse evolui”, acrescenta.

Basicamente, o mecanismo da falência vascular, visto na fase tardia da sepse, é “totalmente diferente do da fase mais inicial”, diz Steiner.

O professor aponta alguns dados sobre esses estágios. “O que tem de peculiar na fase inicial é que, geralmente, você não precisa dar vasoconstritores para recuperar a pressão — muitas vezes só o fluido é suficiente. Ou seja, os mecanismos podem não ser os mesmos que a da final”. A segunda peculiaridade é que, conforme Steiner, apenas metade dos pacientes sépticos respondem ao fluido e esses que estariam no estágio descrito no estudo.

Hipotensão nos vasos sanguíneos na sepse também pode ser abordada na medicina individualizada. [Imagem: Reprodução/Pixabay]

Importância do estudo

Sepse, hipotensão, infecção: todos esses termos parecem muito distantes do cotidiano. Porém, estudar sobre esses temas causa um impacto direto no que se chama de medicina personalizada. “A ideia [da pesquisa] envolve a medicina personalizada, seria personalizar não só para o paciente, mas também para o estágio da sepse que ele está”, explica o pesquisador.

Com estudos voltados a questões específicas para o estágio de sepse que o paciente se encontra, é possível desenvolver tratamentos mais eficientes. Tudo isso derruba o conceito One size fits all, como exemplificado pelo professor. Essa frase, em tradução livre, seria algo como “uma coisa serve para todos”. Por exemplo, é como ter apenas um número de calçado para todas as pessoas usarem — o que não dá certo.

“Se tratarmos todos os pacientes, de todos os estágios, partindo do pressuposto de que temos uma única resposta, a gente pode estar usando uma terapia que não é a mais adequada”, diz Steiner.

O estudo foi o primeiro a levantar a hipótese desse diferencial na causa da hipotensão na fase inicial da sepse, mas ainda tem um longo caminho a percorrer: ele foi realizado em ratos e com uma parte da parede celular de uma bactéria — que mimetiza a infecção.

Porém, esse é o ponto de largada de toda pesquisa. O professor enfatiza: “Ele deu um novo arcabouço teórico a ser explorado”. “Agora, é preciso paciência e perseverança para realizar testes em outras espécies de animais, em modelos de infecção propriamente dita e, eventualmente, em pacientes sépticos”, acrescenta.

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