O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo. Uma estimativa feita em 2020 calculou aproximadamente 2,3 milhões de casos, o que representa quase 25% dos diagnósticos. Embora as pesquisas científicas tenham avançado muito, o tratamento pode ser especialmente incômodo para mulheres que enfrentam a doença. Pensando nisso, pesquisadores constantemente buscam descobrir terapias auxiliares que possam diminuir os efeitos colaterais. Entre elas, a acupuntura é um método que tem se mostrado promissor.
Atualmente, o tratamento do câncer conta com algumas etapas, como a quimioterapia, a cirurgia e a radioterapia, a depender do grau de desenvolvimento do tumor. Em alguns casos pode haver uma etapa adicional de bloqueio hormonal. Essa fase é fundamental para o sucesso dos procedimentos anteriores e pode impedir até 40% das reincidências – o retorno da doença mesmo após o tratamento. Para que isso aconteça, é necessário o uso continuado de controladores hormonais como o Tamoxifeno, um dos mais usados para essa finalidade, por um período de cinco a dez anos.
Embora sua eficácia seja amplamente reconhecida, o uso prolongado do Tamoxifeno pode resultar em uma miríade de sintomas adversos similares aos da menopausa, como insônia, distúrbios de humor, ondas de calor, diminuição da libido e da lubrificação, causando dores durante nas relações sexuais. Isso afeta diretamente a qualidade de vida e faz com que aproximadamente metade das pacientes abandonem o modulador hormonal antes do prazo final, comprometendo o tratamento como um todo.
Opções farmacológicas, como antidepressivos e anticonvulsivantes, são efetivos em reduzir alguns sintomas, mas podem causar intoxicações e comprometer o tratamento. Outras opções incluem acompanhamento psicológico e nutricional, exercícios físicos regulares e suplementos herbais que, embora ofereçam algum alívio e sejam importantes no tratamento, são alternativas pontuais.
Os benefícios da acupuntura para pacientes com câncer
Uma outra possibilidade oferecida pelos especialistas é a acupuntura. A técnica foi introduzida no Brasil em meados dos anos 1990, mas tem sido usada pela medicina tradicional chinesa há séculos para aliviar a dor e melhorar o bem-estar geral, sendo eficaz na redução de náuseas, fadiga e outros incômodos associados ao tratamento do câncer.
A técnica virou tema de pesquisa do médico Eduardo D’Alessandro, cujo estudo tem o objetivo de confirmar os efeitos do tratamento com acupuntura em pacientes com síndrome climatérica, induzida pelo tamoxifeno usado no combate ao câncer. Os resultados foram especialmente positivos para a melhoria da qualidade do sono e do humor.
De acordo com D’Alessandro, que também é coordenador da Unidade de Emergências Referenciadas do Hospital das Clínicas, “os estímulos sensoriais periféricos produzidos pela punção com agulhas na superfície do corpo podem influenciar diversos processos fisiológicos”. A acupuntura age sobretudo no sistema nervoso, mas seus efeitos podem ser sentidos em todo o corpo. Os principais benefícios derivados da técnica é o alívio de incômodos físicos, além do controle da ansiedade e da depressão.
Apesar das vantagens, é preciso lembrar que a técnica é invasiva e sua aplicação de forma incorreta pode causar perfurações. No caso específico de pacientes com câncer, alguns detalhes são importantes para diminuir o risco de complicações, como evitar o agulhamento em membro acometido por linfedema, como também em locais que existam alterações hematológicas ou mesmo alargamento dos tempos de coagulação.
Além disso, mesmo sendo efetiva no tratamento de alguns sintomas, a técnica não mostrou resultados diferenciados em outros, como ondas de calor, lubrificação vaginal e dor durante o sexo. Entretanto, para D’Alessandro, “a acupuntura [ainda] é uma excelente candidata a terapia complementar na busca pela maior aderência e persistência no tratamento usual do câncer de mama.”
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