No dia 5 de abril, o livro 50 anos do Acelerador de Partículas Pelletron: vozes de uma história foi lançado em um evento no Instituto de Física (IF) da USP. Organizado pelos pesquisadores Ivã Gurgel, Marcelo Munhoz e Wayne Seale, o projeto relembra a trajetória do planejamento, construção e produção acadêmica do acelerador de partículas por meio de depoimentos. Além de relatos exclusivos da equipe envolvida, o livro traz uma entrevista com Oscar Sala, físico nuclear ítalo-brasileiro que liderou o projeto para a compra e instalação do Pelletron na USP.
De acordo com Ivã Gurgel, físico, professor e organizador do livro, a história do acelerador de partículas brasileiro começa com a investigação de Oscar Sala. Na década de 50, ele volta dos Estados Unidos para o Brasil com o projeto do acelerador Van de Graaff, um antecessor do Pelletron, que ficou em funcionamento até o fim da década de 60. Por conta dos avanços internacionais no campo da física nuclear, o acelerador brasileiro tornou-se obsoleto.
Para renovar o estudo da física nuclear no país, o professor Sala, em sintonia com a comunidade científica internacional, liderou o projeto para a compra e instalação do Pelletron na USP. Entretanto, esse processo não foi tão simples. Ivã explica essa elaboração através de uma analogia: “É igual quando compramos um apartamento na planta. Achamos que no dia que entregarem o apartamento já dá pra morar. Então descobrimos que tem que colocar o piso e fazer várias reformas para tornar ele habitável”.
Uma vez que o acelerador de partículas foi instalado no Brasil, uma série de reformas foi feita para que fosse possível utilizá-lo, incluindo a instalação do que era, na época, o computador mais potente do país. Com o passar do tempo e o desenvolvimento da tecnologia, diversas partes do Pelletron precisaram ser renovadas, porém o acelerador em si permanece o mesmo.
A ciência das colisões
Aceleradores de partículas são máquinas capazes de acelerar partículas subatômicas a velocidades próximas à da luz. Ao aplicar uma alta quantidade de energia sobre esses elementos, os cientistas conseguem revelar propriedades anteriormente imperceptíveis.
Nas palavras de Marcelo Munhoz, físico e também organizador do livro, “se você quer saber o que tem dentro de uma caixa, mas não consegue abrir de forma alguma, você usa força bruta: joga a caixa contra uma parede, quebra em mil pedaços, recolhe eles e tenta montar o quebra-cabeça para entender o que tinha ali dentro. De certa forma, é o que a gente faz com os núcleos atômicos”.
Os cientistas conseguem entender o que compõe o núcleo atômico a partir de um processo de colisão e desconstrução que ocorre no interior dos aceleradores de partículas. Um exemplo famoso desses experimentos é a descoberta do bóson de Higgs, uma partícula elementar encontrada por pesquisadores no Grande Colisor de Hádrons (LHC).
O legado do Pelletron
Ivã Gurgel e Marcelo Munhoz destacaram a importância do Pelletron para o avanço da física nuclear brasileira. Segundo os pesquisadores, a maior parte dos físicos nucleares no Brasil desenvolveram experiência com o Pelletron. O projeto foi inovador para a época de sua construção e, além de possibilitar a elaboração de inúmeros artigos, fez parte da formação de gerações de profissionais da área.
Após 50 anos de sua construção, o Pelletron ainda contribui para o desenvolvimento do conhecimento científico. De acordo com Marcelo, o colisor de partículas poderá auxiliar no teste de equipamentos eletrônicos resistentes à radiação. Assim, o instrumento também poderá auxiliar na construção e lançamento de satélites nacionais.
Atualmente, uma nação sozinha não é capaz de construir um acelerador de partículas de vanguarda, como foi o Pelletron para sua época. Entretanto, o acelerador do Instituto de Física da USP continua desenvolvendo tecnologias e formando profissionais que contribuem com estudos avançados da física.
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