Estudos que são realizados pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE-USP) revelam o alto potencial do Brasil de armazenar CO2 nas bacias sedimentares do país e, consequentemente, contribuir para a diminuição do composto presente na atmosfera. A pesquisa, liderada pelo diretor do Instituto, o professor Colombo Tassinari, a qual conta também com a participação de outros pesquisadores da USP no âmbito do Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), mostra que a tecnologia aplicada, chamada Carbon Capture and Storage (CCS), ou seja, Captura e Armazenamento de Carbono, reaproveita as estruturas de extração de gás e de petróleo construídas em alto mar nos campos já esgotadas para o armazenamento de CO2 – uma estratégia economicamente, geologicamente e sustentavelmente vantajosa.
O dióxido de carbono é um composto químico gasoso que, em excesso na atmosfera, intensifica o efeito estufa e provoca grandes desequilíbrios climáticos.
“As florestas também abatem o CO2, mas o emprego da tecnologia de armazenamento permite que a gente consiga abater uma quantidade maior, que poderia ir para a atmosfera e não vai, em menor tempo”, explica Tassinari. O procedimento, que só pode ser realizado em alguns tipos de rochas específicas, como, por exemplo, o basalto, uma rocha vulcânica. Nesta rocha, o processo consiste primeiramente na dissolução do dióxido de carbono em solução aquosa e, logo depois, a injeção dessa solução no subsolo. Quando reage com as formações de rochas basálticas, essa solução formará minerais sólidos de carbonato, o que, em alguns casos, ocorreu em cerca de dois anos.
Pesquisa na prática e resultados atingidos
Para o estudo, a metodologia aplicada pela equipe de pesquisadores analisou a viabilidade geológica de uso das bacias sedimentares, o cálculo da capacidade de armazenamento deCO2 para campos de petróleo e de gás, a infraestrutura disponível e a proximidade de fontes emissoras.
Em relação à viabilidade de armazenamento, a pesquisa concluiu que as bacias brasileiras têm potencial de capturar tanto as emissões das cidades costeiras como também as emissões dos próprios campos em alto mar. No que se refere à capacidade total dos reservatórios, os pesquisadores utilizaram a quantidade de hidrocarbonetos que haviam antes da extração de petróleo para supor a quantidade de CO2 que poderia ser injetada pressão em segurança no interior destes campos empobrecidos em óleo e gás. Por fim, para a análise de infraestrutura e de pontos de emissão, foram consideradas apenas fontes estacionárias de CO2, ou seja, emissões pela queima de combustível e de processos industriais, onde o CO 2 emitido pudesse ser capturado.
Um fator relevante para a instalação dessas estruturas é a distância do local de emissão de dióxido de carbono em relação às instalações. Quanto mais próximo as estruturas de armazenamento de CO2 estiverem das fontes emissoras, mais fácil e econômico será o transporte do gás. O CO2 , no interior dos campos exauridos de óleo e gás, ficará aprisionado pelos mesmos mecanismos que mantiveram o petróleo retido por milhares de anos. “O risco de vazamento de CO2 do reservatório, de retornar para a atmosfera ou, eventualmente, contaminar algum aquífero, é minimizado, tendo em vista que, quando são definidos esses reservatórios geológicos, eles devem seguir vários critérios técnicos para garantir a segurança do processo, além de desenvolver técnicas de monitoramento em tempo real”, diz o professor Colombo.
A pesquisa também identificou diversos campos com considerável capacidade de armazenamento de dióxido de carbono, sendo dez deles localizados na Bacia de Santos e na Bacia de Campos. Com esses resultados, o professor Colombo tem expectativas positivas para o uso da tecnologia CCS em uma escala maior no Brasil em até dez anos. Segundo o professor, medidas internacionais para a diminuição de CO2, como o Acordo de Paris em 2015, corroboram para que a tecnologia seja utilizada em escalas cada vez maiores. Isso porque, atualmente, as empresas têm buscado compensar sua pegada de carbono no planeta através de investimentos em projetos que executam na prática essa compensação, através do que já é conhecido hoje como “Mercado de Crédito de Carbono”.
É importante ressaltar que ainda existem vários desafios físicos e econômicos para a implementação de tecnologias que amenizem a pegada humana no planeta. No entanto, é fundamental compreender que o período de transição dessas tecnologias pode não ser imediato.
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