Atualmente é cada vez mais comum a utilização de jogos e práticas esportivas como forma de desenvolver conhecimentos e habilidades. Dessa forma, os estudantes são inseridos em uma atividade na qual, diferente do pragmatismo inerente ao ambiente da sala de aula, podem se divertir, trabalhar em equipe e, ao mesmo tempo, desenvolver os conhecimentos necessários, que é o objetivo principal da fusão entre aprendizado e entretenimento.
A partir disso, a professora Chennyfer Rached, que coordena um grupo de pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP), teve a ideia de utilizar um jogo chamado Escape Room como forma de estimular a capacidade de liderança e o aprendizado dos alunos de enfermagem. A metodologia faz parte do projeto Pedagogia do Esporte e do Movimento como instrumento de apoio ao desenvolvimento da liderança em graduandos de enfermagem.
O Escape Room é um jogo que surgiu apenas como forma de entretenimento para adultos e ficou muito popular no Japão a partir da segunda metade dos anos 2000 e, posteriormente, se espalhou por vários países ao redor do mundo, inclusive no Brasil. O game é realizado em salas imersivas com diversos enigmas, quebra-cabeças e desafios palpáveis, onde os jogadores são os personagens e precisam escapar em determinado período de tempo. E todas as etapas do jogo só são possíveis de serem concluídas a partir do trabalho em equipe.
O trabalho em equipe é essencial na enfermagem, uma vez que os enfermeiros correspondem ao maior número de profissionais dos sistemas de saúde e exercem uma função central e intermediadora entre a equipe multiprofissional, pacientes, familiares e todos os envolvidos na assistência. “Tenho buscado trazer para os alunos formas de desenvolverem habilidades de liderança na graduação”, explica Chennyfer.
A introdução do Escape Room tem como objetivo ser mais uma ferramenta de apoio que comporte as características necessárias para se desenvolver questões como colaboração, engajamento e tomadas de decisão, além de outras habilidades que são fundamentais para o profissional de enfermagem e também para o ambiente de trabalho no qual estão inseridos.
Com isso, os alunos poderão desenvolver estratégias que não seriam possíveis ou tão eficazes com os métodos tradicionais de ensino. “O Escape Room tem várias produções científicas relacionadas à questão estratégica, trabalho em equipe, colaboração e cooperação”, conta a pesquisadora.
Para a criação da sala e realização da dinâmica do Escape Room, primeiramente foi necessário pedir autorização ao comitê de ética da EE e, após a aprovação, foi montada uma agenda no Google para que os alunos matriculados no curso de enfermagem que tivessem interesse em participar da atividade, independente do semestre, pudessem fazer o agendamento. Assim, foram escolhidos quatro alunos para conhecer o Escape Room em uma unidade que existe na cidade de São Paulo. “Fomos para eles conhecerem o jogo e entenderem exatamente qual é a proposta, para podermos criar a sala [na unidade da EE-USP]”, relata.
No dia da realização do jogo, a sala será preparada por dois instrutores com a temática, pistas entre outras informações para auxiliar os jogadores durante as etapas do jogo. Vale destacar que toda a estrutura montada e compra de materiais utilizados para a execução dessa atividade serão custeados pela própria Escola de Enfermagem da USP.
No projeto piloto, que aconteceu no dia 9 de dezembro de 2022, foram organizadas duas equipes compostas por 6 alunos por jogo, com atividades a cada 15 dias, com duração de 2 horas cada. A partir disso, os agendamentos das próximas equipes acontecerão de fevereiro a maio. Assim, a previsão é que o número de alunos totalize 96 participantes até o mês de maio de 2023.
O jogo será realizado no laboratório didático de esportes de enfermagem da Escola, que foi inaugurado no primeiro semestre de 2022 e tem, justamente, a finalidade de proporcionar um ambiente educacional flexível para a prática esportiva e atividades didáticas relacionadas ao esporte, saúde e bem-estar. “Todo mundo fala que trabalha em equipe, mas, de fato, será que trabalha? Esse movimento a gente precisa começar a construir, acredito que talvez pelo jogo. Até porque temos grandes líderes como o Bernardinho (vôlei), a Marta (futebol) e tantos outros profissionais do esporte. Eu acredito que se a gente começar a plantar essa semente desde a formação, talvez seja uma mudança na cultura. Assim eu espero.”
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