Experimento revela até que ponto a água salgada pode prejudicar os cabelos

Estudo utiliza água do mar artificial para avaliar sua ação em fibras capilares submetidas a coloração e descoloração

Fios de cabelos úmidos pelo contato com a água/ Imagem: Freepik

Viajar para a praia, em especial em momentos de calor, é um hábito comum dos brasileiros. Nesse contexto, quase sempre existem discussões sobre como o ambiente litorâneo pode afetar o corpo humano. Um dos grandes debates gira em torno dos impactos que a água do mar pode causar nos fios de cabelo.

Embora o cabelo esteja presente nos principais cuidados da população, sua estrutura pode ser alterada de diversas formas no cotidiano, seja por fatores químicos, como o alisamento, a coloração e a descoloração, ou por processos naturais, como a poluição. O contato com a água salgada também é visto como um potencial causador de danos. 

Com o objetivo de analisar o que é verdade ou mito dentro dessa discussão, Marjory Bernardes Fileto, mestra na área de Cosmetologia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, produziu a tese Ação da água do mar artificial nas características da fibra capilar submetida a descoloração e coloração.

Marjory comenta que a ideia do estudo foi associar a área de cosmetologia com ambiental, tendo como foco o cabelo: “Existem muitos mitos nesta área, tanto pelos usuários como pelos profissionais, daí surgiu a ideia de avaliar os danos da água do mar no cabelo descolorido e loiro.”

O estudo realizado pela pesquisadora consistiu em avaliar os danos provocados pela água do mar artificial na fibra capilar virgem, descolorida e colorida com três diferentes níveis de loiro (8.0; 10.0 e 12.0). Os principais critérios adotados foram a penteabilidade, o brilho, a cor e a superfície dos cabelos.

O processo de descoloração ou coloração atinge principalmente o córtex do cabelo, região de maior massa do fio, rica em queratina e local em que se encontram grânulos de melanina responsáveis pela cor dos fios e pela fotoproteção. “Esse processo começa com o pH alcalino da coloração dilatando a fibra capilar permitindo que suas moléculas penetrem no córtex”, explica Marjory.

O conhecido alerta popular sobre os perigos de banhar o cabelo colorido ou descolorido na água salgada pode ser explicado por sua composição, pois ela contém uma solução de sais, matéria orgânica e gases dissolvidos. As interações iônicas e os seus diferentes componentes podem ser agressivos às propriedades físicas do cabelo. 

Nos testes, Marjory optou por utilizar a água do mar sintética, que tem a vantagem de não possuir substâncias tóxicas derivadas da poluição do mar. A água sintética é composta de uma mistura de sais semelhantes à água do mar natural e surge como boa alternativa, por conta da possibilidade de reproduzir uma água uniforme em termos de qualidade.

Sobre os resultados dos testes, Marjory indica: “No começo, esperávamos encontrar um certo nível de dano em todos os testes (brilho, cor, penteabilidade e perda proteica). Porém, para a nossa surpresa, o único teste que obteve resultados notórios em relação ao dano causado pela água do mar artificial foi o teste de penteabilidade, que reflete o dano nas cutículas [camadas mais externas dos cabelos, que protegem os fios e são responsáveis pelo brilho e textura] e o que o consumidor percebe.”

A penteabilidade se trata da força necessária para pentear o cabelo. “Após a submissão do cabelo à água do mar artificial, ele se mostrou extremamente difícil de pentear”, afirma a pesquisadora. O ressecamento causado pela água do mar artificial na fibra capilar virgem, descolorida e colorida explica essa dificuldade. 

No entanto, os testes indicam que os danos não são permanentes e podem ser minimizados. Marjory comenta que existem muitos cosméticos capazes de recuperar a saúde dos fios de cabelo: “Após retirar a água do mar artificial com um shampoo e aplicar um condicionador, houve uma grande queda na força aplicada para pentear as mechas.” Ela ainda completa: “Os outros testes apontaram pequenas alterações na fibra capilar, mas não o suficiente para causarem danos ao cabelo. 

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