São Paulo tem alto índice de desigualdade entre mulheres

Pesquisa do Instituto de Estudos Avançados busca mostrar como as mulheres de diferentes regiões da cidade sofrem com as questões ambientais, de segurança e de infraestrutura

2014.07.25 - Porto Alegre/RS/Brasil - Lançamento da Marcha das Mulheres Negras. | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21.com.br

A equidade de gênero é um valor almejado na contemporaneidade e, apesar de existirem evoluções em relação ao passado, o mundo está longe de uma verdadeira equidade ou, pelo menos, satisfatória, principalmente em um país tão desigual — em âmbitos socioeconômicos — como o Brasil. É nesse cenário que se insere a pesquisa “Mapa das Desigualdades e Interseccionalidades de Gênero em São Paulo”, da arquiteta e pesquisadora colaboradora do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, Luciana Fukimoto Itikawa. 

O estudo, ainda em andamento, baseia-se a partir de métodos estatísticos georreferenciados para encontrar indicadores ambientais, demográficos, sanitários, criminalísticos e estruturais na cidade, com objetivo de servir como ferramenta de consulta e referência para formulação de políticas públicas e reivindicação de movimentos organizados.  

Mapas da capital paulista de fontes diversas analisados pela pesquisadora, as quais informam, por exemplo, áreas de risco geológico e de inundação, ilhas de calor, assentamentos precários e densidade de mulheres pretas e pardas, indicam que o centro expandido de São Paulo concentra a população feminina mais vulnerável. Em contrapartida, a região sudoeste, onde estão localizados os bairros nobres, é a região mais favorável para esse grupo. 

Ao olhar para os indicadores separadamente, existem padrões recorrentes, ligados à raça e à classe, como os locais onde estão a maior parte das trabalhadoras informais ou as mulheres com maior insegurança na posse, ou seja, menor acesso à casa própria. Mas há outros indicadores socioeconômicos que não são clássicos, como os de poluição atmosférica. Dessa vez, os lugares que mais sofrem com esse aspecto são os bairros considerados ricos. 

Luciana percebe que “as mulheres não sofrem de forma igual as opressões, violências e precariedades”. “Dependendo da região onde a mulher está, da classe social dela e das condições de infraestrutura urbana que ela tem, ela vai viver a violência de uma forma muito diferente”, completa.  

Segundo a pesquisadora, no que se refere à pandemia da Covid-19, a doença acentuou as diferenças já existentes entre as camadas de mulheres em São Paulo. Sobre isso, ela afirma: “as bases estruturais do machismo, do classicismo e do racismo permanecem, apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos e da inserção da mulher no mercado de trabalho. Esses avanços não são acompanhados de uma diminuição das violências contra a mulher”. 

A arquiteta também pretende construir uma plataforma interativa para que gestores públicos possam acessá-la e utilizar suas informações para discutir a alocação de recursos e simular cenários futuros, além de entidades civis utilizarem-na como ferramenta de controle social. 

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