A própolis é uma substância proveniente da colheita de abelhas da resina de plantas. No vegetal, a então resina atua na defesa de insetos e fungos. Produzida pelas próprias abelhas, na colmeia a própolis possui a função de preencher falhas e de agir como anti-inflamatório.
Diante das possibilidades de atividades biológicas da própolis dentro de organismos, o professor Antonio Salatino, do Laboratório Fitoquímico do Instituto de Biociências da USP (IB), explica, em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), os efeitos medicinais e as aplicações socioeconômicas e ambientais desse composto. “A própolis é utilizada pela humanidade de modo semelhante ao das abelhas, como substâncias que agem contra infecções, podem ser usadas na comunidade em aplicações cicatrizantes e ainda tem o potencial de nos prevenir de diabetes e câncer”.
Substância múltipla
Segundo o pesquisador, a própolis, ao ser utilizada em conjunto com antibiótico, diminui o risco do desenvolvimento de infecções causadas por bactérias. “[A combinação antibiótico e própolis] apresenta muitas substâncias que agem em vários alvos”, explica. “Há menos chances de microrganismos desenvolverem resistência a essa ação ativa em conjunto”.
Este produto natural também apresenta atividade antifúngica. E outras pesquisas indicaram que ela protege o organismo contra infecções virais por meio de diferentes mecanismos: a inibição da absorção pelas células hospedeiras, bloqueio da replicação viral e dano à estrutura do vírus.
Além disso, a própolis possui propriedades antioxidantes. Seu consumo pode, portanto, diminuir a quantidade de radicais livres em nossos organismos, diminuindo toxinas e, em última instância, danos celulares.
Entretanto, as própolis são complexas e variadas. Isso gera um desafio para padronização e controle de qualidade delas. Para o professor, o uso farmacêutico é incomum devido à substância não atender ao rigor dos grandes laboratórios, de terem todas as suas composições conhecidas. Salatino aponta a importância da cromatografia para a sua utilização farmacêutica. “A cromatografia é um método de análise e identificação da própolis que separa seus componentes da forma bruta em frações absolutamente conhecidas. Cada uma dessas pode ter uma série de aplicações.
A composição complexa da própolis conta com a resina vegetal, ceras de abelhas, óleos essenciais, pólen e detritos da natureza. As variações dos tipos dependem de cada um desses fatores e de outros, como: localização geográfica das colmeias, estação do ano e características da vegetação local. A sua biodiversidade vai da cor verde, vermelha, até a preta, pois a coloração depende da resina, da planta originária e da abelha que captura. Esses tipos apresentam características distintas, com diferenças na concentração de terras, resíduos e materiais ativos.
Benefícios ambientais e socioeconômicos
A lógica produtiva prioriza o gênero Mellifera, abelhas europeias. Fomentar a diversidade de própolis e de abelhas nativas, que não estão tão impostas na lógica comercial, contém um significado de preservação e valorização do patrimônio genético ambiental. “Temos uma riqueza de abelhas tropicais que é muito grande”, explica o pesquisador. “São três gêneros principais: Meliponas, Tetragonisca e Scaptotrigona”, conta. “Deveríamos saber as especificidades da produção de própolis e de atividades de cada grupo.’’
Globalmente, pesticidas e mudanças climáticas são fatores comuns que acarretam aumento da mortalidade de abelhas. No Brasil, a maior parte da produção é feita pela apicultura familiar. Pequenos produtores podem ser aliados na preservação da vida de abelhas, já que também é a conservação das riquezas comerciais e farmacêuticas de mel e própolis, úteis na regulação e produção da própria lavoura.
Em outros casos, o processo produtivo pode vir a ser uma alternativa e incremento de renda de populações vulneráveis. “No mangue do litoral de Alagoas, muitas pessoas simples, que antes trabalhavam com a caça de caranguejo, ampliaram suas rendas trabalhando na produção de própolis vermelha”.
Faça um comentário