Captura acidental continua a ser a principal ameaça a sobrevivência de um dos menores golfinhos da América do Sul

Conhecida como toninha no Brasil e Franciscana na Argentina e Uruguai, espécie de golfinho segue ameaçada pelas redes de pesca; estudos mais precisos são necessários para preservação do pequeno cetáceo

Imagem de toninha com rede de pesca enroscada na boca [Créditos: Marco Favero]

A pesca acidental continua a ser o principal fator de ameaça à sobrevivência do golfinho toninha, segundo pesquisa de Iniciação Científica (IC) finalizada em setembro de 2022, de autoria da estudante do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Isabela Rugitsky Domingues. A espécie é denominada pelo meio científico como Pontoporia blainvillei, mede entre 1,13 a 1,58 metros e é natural da América do Sul, podendo ser observada no Brasil, Uruguai e Argentina.

Rugitsky explica à Agência Universitária de Notícias (AUN) que a pesca acidental se refere à captura de espécies marinhas que não são alvos dessa atividade humana e que a captura com rede de espera ou emalhe é uma das principais causas de morte das toninhas. “Em documentários que envolvem a atividade pesqueira é muito comum observarmos a captura de animais como tartarugas, tubarões e populações de golfinhos que precisam ser devolvidos ao mar por não serem alvo da pesca, diferentemente da sardinha e da pescada, que são alvos da atividade humana”, exemplifica.

Rede de pesca embolada (Fonte: Polícia Ambiental)

A morte das toninhas pela pesca acidental ocorre por elas ficarem enroscadas nas redes de emalhe, nas quais os animais ficam presos por conta de seu próprio movimento, o que, por sua vez, impede que o cetáceo retorne à superfície para respirar. O Instituto Gremar, organização não governamental que atua nas frentes de resgate, reabilitação e soltura de animais marinhos, destaca que de 2016 até este ano, o número de mortes de toninhas por captura acidental cresceu de 18% para 45%.

“Somada às outras causas de mortes das toninhas, como a poluição dos mares por materiais plásticos e metálicos, além da diminuição da oferta de alimentos, por conta das mudanças climáticas, o número pode ser ainda pior”, alerta Rugitsky. Atualmente, as toninhas, animais tímidos e considerados “invisíveis” por pouco serem avistados na superfície do mar, estão na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN (sigla em inglês para União Internacional Para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), conforme aponta o relatório final da jovem pesquisadora.

Filhote de toninha morto encontrado na praia [Créditos: R3 Animal]
“Uma das conclusões que chegamos foi que a avaliação dos impactos da pesca nas áreas que as toninhas vivem ainda é escassa, o que gera, urgentemente, a necessidade de criação de medidas e ações eficazes de manejo pesqueiro para mitigação da mortalidade desse pequeno cetáceo”, adverte Rugitsky.

Áreas de manejo

A pesquisa, intitulada Avaliação sobre o estado da arte dos conhecimentos com vistas à conservação da toninha, teve como objetivo central avaliar se as quatro áreas de manejos das toninhas (da sigla em inglês Franciscana Management Areas, FMAs) alcançaram as metas estabelecidas há 20 anos, desde a sua criação. Para tanto, o estudo se baseou nas temáticas de sobrevivência, reprodução, crescimento e na avaliação de estoques populacionais e em análises temporais e espaciais do cetáceo nas áreas onde a espécie se encontra.

Mapa com a distribuição da toninha ao longo da costa sul-americana e as quatro Áreas de Manejo. No Espírito Santo e no Rio de Janeiro há hiatos na distribuição da espécie. (Fonte: Secchi et al. 2002).

Ao todo, a estudante se debruçou sobre 191 artigos científicos, frutos da análise das quatro áreas de manejo, distribuídas entre a costa brasileira, argentina e uruguaia, sendo 32 artigos sobre a FMA I, 33 sobre a FMA II, 46 sobre a FMA III e 45 sobre a FMA IV. “Entre os 191 artigos que analisei, 11 trataram de toda a área de distribuição das toninhas e 24 abordaram duas ou mais FMAs em um mesmo estudo, em diferentes combinações. Então foi um desafio compilar toda essa análise”.

A IC aponta que “pode ser observado um aumento marcante no número de artigos após o ano de 2002 e um equilíbrio em número de publicações para as quatros FMAs após o marco temporal estabelecido, mas os estudos científicos ainda são escassos”. O orientador do projeto, professor Marcos César de Oliveira Santos, do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, atesta que o ineditismo da publicação reside justamente no alerta feito à sociedade e aos órgãos competentes sobre o iminente risco de extinção das toninhas.

Toninha em seu habitat natural [Projeto/Divulgação: LABCMA]
“Do trabalho final da Isabela, conseguimos chegar a uma linguagem menos técnica e em um formato mais inclusivo para atender a não cientistas. Além disso, pretendemos, em breve, incluir uma seção onde indicamos caminhos possíveis para salvar este golfinho da extinção”, afirma Santos.

Um e-book inédito, de acesso livre, produzido pela estudante e seu orientador, especificamente sobre a toninha, será compartilhado no site sotalia.com.br, na aba Extensão Cultural, janela Livros Gratuitos.

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