A Estação Meteorológica (EM) do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP foi fundada em 22 de novembro de 1932. O objetivo era substituir a Estação Meteorológica Central (EMC) – Observatório de São Paulo –, que prestava serviços ao estado de São Paulo. A partir daí, muitos dados sobre o clima na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) foram sendo coletados, em um período que, em 2022,
completou 90 anos.
O local de coleta dos índices de temperatura, pressão, velocidade do vento, dentre outros, também permaneceu o mesmo: Parque do Estado, bairro da Água Funda, onde também se encontra o Zoológico de São Paulo. No lugar, houve poucas modificações da paisagem, diferentemente da Avenida Paulista, nº 69, sede da EMC, que já estava em processo de urbanização.
O professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP e chefe da seção técnica da EM, Carlos Augusto Morales Rodriguez, e o técnico especialista, também da EM, Mario Festa, explicam que “já na década de 30, o Observatório de São Paulo na Avenida Paulista, tinha interferência do trânsito crescente, que afetava de modo significativo os registros dos diversos instrumentos ali instalados para as atividades de Astronomia, Geofísica e Meteorologia”.
O professor conta que a localização fixa e a mesma metodologia de captação consolidou a coleta de dados, o que foi e ainda é muito importante para estudos das mais variadas áreas. Outra questão que também influenciou para ajudar na pesquisa climática refere-se à mudança de rumos que a EM teve em 1941.
“Em 1941, o Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo ficou sob a supervisão do Serviço Meteorológico Federal. Assim, a Estação Meteorológica se desvinculou da rede de estações meteorológicas e ficou definida como uma estação climatológica. Esta alteração levou a ter as séries climatológicas mais longas e de forma ininterrupta até hoje no estado de São Paulo”, destacam Rodriguez e Festa.
Agora, conforme explicou o professor, a EM do IAG-USP é uma das poucas estações climatológicas do mundo. Isso significa que tudo o que é coletado constantemente pode ser utilizado para análises mais aprofundadas – por serem dados de longo prazo –, e verificar, assim, principalmente os fenômenos meteorológicos, diferentemente das estações apenas meteorológicas, as quais indicam condições de tempo em curto prazo.
Além disso, “em 2009 a Estação Meteorológica foi cadastrada na WMO-World Meteorological Organization, com o registro 83004, envia dados nos horários sinóticos e faz parte da rede mundial de estações meteorológicas”, completam.
Instrumentos e base de dados
Rodriguez e Festa contaram que “os instrumentos meteorológicos do Observatório da Avenida, como era conhecido, foram transferidos para a estação do Parque do Estado e, em 1958, foram acrescentados mais alguns instrumentos após a realização do IGY-International Geophysics Year que teve a participação do Brasil.”
Entre eles, destacam-se um Barômetro de Mercúrio (mede a Pressão Atmosférica); Anemógrafo Diário (que é utilizado para se obter dados sobre a direção, velocidade média, e velocidade instantânea do Vento); Psicrômetro (capaz de conseguir informações da temperatura do ar seco e do ar úmido, além de fornecer,
de modo indireto, dados sobre a pressão do vapor do ar, umidade relativa e ponto de orvalho (temperatura na qual o ar está saturado); Pluviômetros que medem a quantidade de chuvas; e um Actinógrafo Diário, que registra o total de energia solar recebida na superfície.
Estes instrumentos captam dados em um raio de 10 quilômetros a partir da EM. “Medidas de chuva, granizo, raios e rajadas de ventos são locais”, ressaltam.
E os modos de se armazenar informações e índices sofreram drásticas alterações nesses 90 anos. Não havia uma difusão de computadores e muito menos o armazenamento em nuvem como agora. Isso não foi diferente para a estação meteorológica do IAG. Os especialistas destacam que os dados eram registrados em cadernetas e folhas de observação diária – material perfeitamente preservado até hoje.
“A partir da década de 80, os dados observados e coletados também foram digitados em planilhas Excel. A partir de 2009, também foram digitados em um banco de dados com interface web. Os livros do Observatório foram digitalizados”, complementam.
Caso queira ter acesso aos dados, basta solicitá-los no site da EM, clicando neste link. Lá, o solicitante se apresenta, fala algumas informações sobre qual intuição de pesquisa pertence e o objetivo que almeja com aquelas informações; escolhe os índices que deseja – desde coisas mais conhecidas como pressão atmosférica até ocorrência de nevoeiro na região; o período de tempo; e a periodicidade, se dados diários, mensais ou anuais. Após isso, recebe-se uma planilha do Excel por e-mail com tudo aquilo que foi pedido.
Pressão humana
Com 90 anos, muitas transformações ocorrem, principalmente quando se trata da sociedade humana. O avanço antrópico sobre a natureza ocasiona grandes mudanças na dinâmica no microclima de uma região, por exemplo.
Nesse caso, a séria histórica dos indicadores climáticos, realizada pela Estação Meteorológica do IAG-USP, permite analisar essas mudanças, suas causas e possíveis consequências para a população, além do que pode ser feito para reverter as Mudanças Climáticas com ações mais conscientes.
“A série histórica de 90 anos permitiu estabelecer as médias históricas e as normais (médias a cada 30 anos). A partir destas séries foi possível observar, por exemplo, que a temperatura média anual (1933 a 2021) vem aumentando gradativamente”, no período, em um total de 2,2 ºC. “A precipitação anual também apresentou um aumento linear”, de 1.238 milímetros entre 1933 e 1960, para 1.412 entre 1991 e 2017, apontam Rodriguez e Festa.
Os especialistas destacam também as diversas áreas da sociedade que utilizam a base de dados para os mais variados fins. “Academicamente, temos desde 1988 os registros meteorológicos que produziram mais de 3.626 trabalhos acadêmicos – trabalhos de conclusão de cursos, mestrados, doutorados e artigos científicos – e 3.691 laudos para obras, seguradoras e bancos”, completam.
*Reprodução de imagens autorizada pelo Prof. Carlos Augusto Morales Rodriguez, chefe da seção técnica da Estação Meteorológica do IAG-USP.
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