Pesquisa levantada por Eliane Simões, doutoranda em saúde pública pela USP, revelou que 60% dos professores que possuem a síndrome de burnout grave, também conhecida como esgotamento profissional, foram agredidos no ambiente de trabalho no último ano. A falta de políticas públicas específicas para a prevenção da doença ocupacional entre os profissionais da educação aliada a não identificação do problema por parte dessa classe de trabalhadores agravam a situação.
Segundo Simões, ”o esgotamento profissional é um agravo à saúde relacionado ao estresse crônico vivenciado no ambiente de trabalho e afeta, principalmente, as profissões de áreas em que há provimento de assistência ou cuidado de pessoas, como educação, saúde e segurança”. A especialista afirma que, no caso dos professores, “o cotidiano de convívio com alunos e pais que os desrespeitam, o pouco apoio institucional e a necessidade de trabalhar em espaços com muitos ruídos tornam a experiência exaustiva e propiciam o desenvolvimento de características do burnout, como o afastamento emocional”.
A pesquisadora explica que o diagnóstico é feito a partir da análise de sintomas relatados no consultório e, para isso, há o uso de instrumentos específicos, como o Maslach Burnout Inventory (MBI), que avalia o estado da pessoa a partir de três aspectos: exaustão emocional, realização profissional e despersonalização.
“Embora os professores tenham clareza sobre seus sintomas, geralmente não associam a condição de saúde ao emprego”. E completa: “Eles reclamam do trabalho e até interligam certos sinais, como os problemas gástricos e as taquicardias, à ocupação quando são agredidos, por exemplo, mas a maioria não tem uma percepção de que pode estar sofrendo de esgotamento”.
Para Simões, as doenças ocupacionais são pouco reconhecidas e, quando estão relacionadas à saúde mental, a falta de atenção aumenta. A especialista afirma que há uma tendência à individualização do problema ao invés de observar o contexto do trabalho escolar e os recursos pessoais que a tarefa exige para que seja concretizada.
“Como consequência, o burnout diminui a qualidade de ensino”, segundo a doutoranda. Isso porque, professores em estado de esgotamento apresentam um desempenho menor do que se estivessem em condições psicológicas favoráveis. Simões indica outro efeito: a redução da atratividade da carreira, o que resulta na diminuição do ingresso de jovens no setor.
Em relação às agressões sofridas pelos profissionais, ela diz que “a escola ser apresentada como uma área de confrontos e não de diálogo é um reflexo da sociedade em que ela está inserida. Então, a saída deve ser abrangente, coletiva, inclusiva”. Vale lembrar que a Constituição Federal prevê o direito a um ambiente de trabalho seguro e saudável e, portanto, o governo deve criar formas de prevenir o problema.
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