Inteligência artificial é capaz de identificar transtornos mentais

Estudo da USP utiliza algoritmos para captar a possibilidade de doenças psiquiátricas em jovens

Fotomontagem sobre a relação humana com as tecnologias - Arte: Ana Júlia Maciel

Pesquisa feita pelo Laboratório de Neurociência do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FM) usa inteligência artificial para detectar o risco de desenvolvimento de transtornos mentais em pessoas jovens. O estudo é focado em doenças graves, como esquizofrenia, ansiedade e depressão. 

Alexandre Loch, médico e pesquisador coordenador do estudo, explica que a captação ocorre colocando o paciente em uma sala com câmeras de celular e o convidando a contar sobre suas experiências pessoais, como a relação com os pais e sua infância. “O protocolo avalia a linguagem verbal, o que a pessoa fala, juntamente com a linguagem não-verbal, como ela gesticula, suas feições faciais, para detectar possíveis sinais precoces de doença mental”, afirma Loch.

Alexandre Loch demonstrando o funcionamento da inteligência artificial – Foto: Reprodução/ IPq/HC/FMUSP

Benefícios e malefícios da tecnologia

Devido ao tabu construído em cima dos transtornos mentais, muitas pessoas demoram para buscar ajuda psiquiátrica. Ao desenvolver uma inteligência artificial capaz de facilitar a detecção destes problemas, o diagnóstico seria encontrado precocemente e facilitaria o tratamento e prevenção, afirma Loch. 

Todavia, o mesmo avanço científico poderia ser utilizado de maneira prejudicial. Alexandre cita, como exemplos de mal-uso, o autodiagnóstico indeterminado e a utilização da ferramenta por empresas para selecionar funcionários com menos probabilidade de desenvolver transtornos. 

Um dos grandes obstáculos da pesquisa é a conciliação entre a humanidade do paciente e o software. Diferentemente de outras doenças, como o câncer, os problemas psicológicos não apresentam diagnóstico exato. Nesta pesquisa é preciso tentar ensinar uma máquina a “ler” o comportamento humano, construindo-se uma grande barreira de linguagem e muitos desafios para o estudo.

Entretanto, em uma pesquisa anterior, avaliando 66 vídeos prontos de jovens da cidade de São Paulo, Alexandre obteve, com um algoritmo, uma precisão de 80% no diagnóstico dos casos. 

O futuro  

Loch conta que ainda é preciso mais desenvolvimento na ferramenta para difundi-la e consolidar seus paradigmas. Em outras palavras, a máquina precisa entender melhor os sinais verbais e os gestuais e os ligar aos transtornos corretos. 

O médico afirma, porém: “Não acredito que substituiria o profissional especializado, pois para tratar a mente humana precisamos de outra mente humana. Boa parte do tratamento se dá através justamente deste contato. O tratamento por máquinas, exclusivamente, falharia”, pontua o pesquisador. 

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