A influência negativa da antropização no planeta gera males para toda a população, embora o impacto seja constituído e distribuído em graus diversos. A tese A Pegada de Carbono das famílias brasileiras por meio da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) aborda a emissão de carbono de uma maneira mais “próxima” das nossas realidades, já que analisa como as famílias brasileiras atuam nesse cenário. Celso da Silveira Cachola, mestre em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Sustentabilidade da EACH e autor da tese, discorre sobre como a quantidade de dióxido de carbono (principal gás do efeito estufa) emitido por famílias submete-se a uma relação de renda, na qual os mais ricos podem emitir quase sete vezes mais desse gás do que os mais pobres.
O pesquisador usou uma metodologia chamada “insumo produto” que engloba todas as frações da emissão de carbono indiretas (no processo de fabricação de produtos consumidos) e diretas (queima de CO2) ao longo de uma cadeia de suprimentos. Dessa forma, é possível calcular a emissão indireta de CO2 pelas famílias, com base nas matrizes lançadas pelo IBGE, e das emissões diretas, calculadas com base na queima de combustível e energia elétrica familiar.
Celso Cachola, em entrevista, explica qual o papel do dióxido de carbono (CO2) no efeito estufa: “As emissões de CO2 contribuem para o efeito estufa, aí algumas pessoas falam mais está frio, não existe aquecimento global, mas, o que acontece é que as mudanças climáticas vão se intensificar”. O pesquisador ainda ressalta: “o aquecimento do planeta, no caso de o efeito estufa atingir apenas 1° ou 1,5° de aquecimento a mais, não fará com que o planeta todo se aqueça durante todo o ano 1,5° a mais, porque o sistema climático terrestre é complexo”. Ele também explica que, “mudando essas estruturas, os ciclos meteorológicos vão mudar (nem todos os lugares da mesma maneira)”. E isso também é “um dos grandes problemas da justiça ambiental, porque quem emite mais não vai sofrer tanto, mas, sim, quem emite menos, como as pessoas que moram em áreas de risco”.
O impacto do consumo dos ricos se dá pela quantidade de itens comprados ser exorbitante e a grande quantidade de carbono emitida para produzi-los. Celso Cachola, afirma que “há uma relação de renda com consumo, e quanto mais acabamos consumindo, mais emitimos carbono, [haja vista que] o consumidor é um dos principais responsáveis pela emissão de carbono”. Assim, desaguamos no “bem-estar energético”, termo que refere-se à capacidade de atingir um nível de energia que satisfaz as necessidades básicas domésticas. Celso Cachola ressalta que “às vezes uma família pobre nem tem um botijão de gás, principalmente com pandemia, nem queima tanto combustível, o que emite muito pouco CO2 e não tem um bem-estar energético”. E, então, nos deparamos com um cenário desequilibrado, no qual os que menos contribuem para o efeito estufa são os mais atingidos pelo males gerados por esse fenômeno, como as drásticas mudanças climáticas, inundações, secas, calor escaldante e crises hídricas.
Todavia, agora já podemos contribuir para amenizar o impacto da pegada carbônica. As medidas recomendadas por Celso Cachola são acessíveis e podem entrar no seu cotidiano: optar por alimentos mais orgânicos, trocar a carne bovina por carne de frango ou, melhor, por vegetais, consumir produtos com menos carbono, refletir mais nas compras (consumir menos), trocar o combustível do carro de gasolina para álcool, e optar por transportes coletivos. Além disso, as calculadoras de emissão de carbono são uma alternativa interessante para vermos com mais exatidão qual tamanho da nossa pegada ecológica e, quem sabe, nos incentivar a mudar nosso estilo de vida em prol de uma melhora tanto individual, quanto coletiva.
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