
O dizer popular de que galinhas são capazes de fazer um controle de escorpiões, ou seja, podem diminuir ou estagnar o crescimento da população desses animais peçonhentos, foi posto à prova no estudo Voracidade, reação às picadas e sobrevivência das galinhas domésticas quando se alimentam de escorpiões amarelos (Tityus serrulatus). No Brasil, em torno de 150 mil ao ano, casos de acidentes com escorpiões são notificados e possuem um índice de mortalidade baixíssimo. Todavia, o veneno do escorpião causa males à saúde da pessoa picada, os sintomas leves incluem dores fortes e inchaço no local da picada, então, medicamentos anti-inflamatórios são procurados pelos lesados. Por sua vez, os sintomas graves incluem espasmos musculares, sudorese e salivação, que podem indicar a necessidade da aplicação de soro antipeçonhento, em ambos os casos, o auxílio médico é recomendado. Logo, meios viáveis e eficazes para o combate desse tipo de animal peçonhento são bem vindos, os autores e coautores do artigo exploram essa questão e a interação predatória entre escorpiões e galinhas. A pesquisa foi realizada pelos doutorandos da EACH Gabriel Murayama e Guilherme Pagoti, juntamente com os professores José Guadanucci e Rodrigo Willemart.

O orientador do estudo, professor Rodrigo Willemart, relata o processo inicial da experiência, os pesquisadores selecionaram galinhas criadas em fazendas e recolheram escorpiões amarelos da cidade de Botucatu. Após isso, em um ambiente familiar às galinhas, elas foram postas em contato com os escorpiões, que eram colocados no chão quando as galinhas se aproximavam e, ao vê-lo, atacavam vorazmente. A partir de registro em vídeo, os autores do estudo puderam concluir que no momento do ataque, a galinha possivelmente era picada pelo escorpião na região do bico. A maioria das galinhas, dois terços, não teve reações aversivas às picadas nem apresentou debilidades físicas após o incidente, elas apenas ignoravam e continuavam a alimentar-se vorazmente dos escorpiões oferecidos. Embora um terço dos animais tenha tido reações como saltar, ficar com a cabeça trêmula, arranhar o bico/face com os pés, entre outras, não houve indícios de debilidades na saúde desse grupo de animais. Sobre isso, Rodrigo afirma que tais comportamentos não haviam sido vistos nas galinhas em observações anteriores e que expõe a sensibilidade delas à picada, mas, que não as afetam a longo prazo, já que todas as galinhas, com reação ou sem, mantiveram-se vivas ao final do período de observação, 30 dias.
Foto: Reprodução
Outro indicador de que essas eram reações momentâneas e que a voracidade da galinha é um fator determinante para seu potencial desempenho como controladora biológica, era o desejo das galinhas de continuarem a se alimentar com os insetos após serem picadas. Segundo Rodrigo Willemart “Uma galinha comeu nove escorpiões! Várias galinhas comeram vários escorpiões. Ela captura o escorpião e pula [umas das reações aversivas], mas, quando você oferece outro, ela come, é picada de novo e, se oferecer um terceiro, ela aceita de novo”. Assim, a aplicabilidade do estudo no cotidiano de pessoas que moram em áreas mais ruralizadas, e até mesmo na cidade, é acessível, visto que comprar uma galinha doméstica pode ser uma ação eficaz para o controle de escorpiões.
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