Na maioria das vezes, a sucessão ecológica em ecossistemas marinhos depende do organismo que deu início a esse processo, em que organizações simples são substituídas por aquelas mais complexas gradual e progressivamente. No entanto, um estudo realizado no Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar) revelou que o papel desse organismo, chamado fundador ou pioneiro, vai muito além disso: ele também pode influenciar a diversidade e a estrutura de uma comunidade séssil (que não possui capacidade de locomoção como os corais e alguns tipos de algas), por meio de ações que inibem ou facilitam a entrada de novas espécies.
Segundo o autor do estudo, Edson Aparecido Vieira, pesquisador do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Se existe um organismo que domina o espaço rapidamente, ele vai inibir outros de chegarem ali perto, ou até podem chegar, mas tem grandes chances dessa espécie [pioneira] recobrir-los conforme vai crescendo”. Em contrapartida, aquelas de crescimento vertical e que não dominam o ambiente facilitam a incorporação de outros organismos, visto que oferecem espaço para crescimento e proteção contra predadores.
Para estudar essa relação entre fundador e sucessão, foram utilizadas na pesquisa Efeito da colonização inicial no desenvolvimento e estruturação de comunidades marinhas incrustantes de sublitoral raso três espécies diferentes: a ascídia colonial Botrylloides nigrum e os briozoários Bugula neritina e Schizoporella errata. As espécies foram coletadas no Yacht Club de Ilhabela (localizado no Canal de São Sebastião) e são comuns em estágios iniciais de sucessão.
Os briozoários são invertebrados aquáticos e coloniais do filo Ectoprocta, também conhecido como Bryozoa, encontrados em todos os oceanos do planeta. Já as ascídias pertencem ao filo Chordata e podem viver tanto colonialmente quanto de forma solitária. Esses animais habitam águas rasas e zonas profundas e servem de abrigo e fonte de alimentação para outros seres vivos, tendo suas colônias fixadas em substratos (bases) variados, desde rochas e animais até suportes artificiais como cascos de embarcações e estruturas de concreto.
A partir da realização de experimentos que manipularam a entrada de novos organismos no começo da sucessão, verificou-se que os briozoários possuem maior taxa de sobrevivência em relação à ascídia colonial e também foram observadas características inibitórias no briozoário Schizoporella errata.
Além disso, as ascídias de crescimento bidimensional (horizontal), ainda que propensas a ocupar espaço, foram facilmente predadas por não possuírem o revestimento mineral dos briozoários. Portanto, de acordo com o pesquisador, “a estrutura dessa comunidade a longo prazo depende de quem chegou primeiro, mas depende também da ocorrência de muita predação ou não, e se aquelas espécies que chegaram primeiro são mais suscetíveis à predação”.
Ação antrópica
A poluição e a urbanização de zonas costeiras, principalmente a construção de portos, também podem interferir na sucessão ecológica de comunidades marinhas sésseis. De acordo com Edson, “se a gente tem um lugar muito poluído, só aquela galera que consegue lidar com as condições adversas vai viver ali, então você muda muito as possibilidades que essas comunidades podem ter.”
Espécies exóticas
Não é raro encontrar espécies exóticas, ou seja, que estão fora de sua área de distribuição natural, em locais de intensa movimentação de embarcações. Em geral, esses animais e plantas são transportados acidentalmente entre regiões e países na água de lastro ou presos nos cascos dos navios. “Se você tem espécies que quando fundam a comunidade a deixam muito simples, então fica um ambiente mais restritivo e acaba sendo mais fácil de que espécies oportunistas consigam ocorrer”.
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