No dia 13 de janeiro deste ano, Bolsonaro assinou um decreto que flexibiliza a proteção a cavernas, inclusive as consideradas de alta importância, que anteriormente não podiam sofrer nenhum tipo de interferência.
O decreto foi muito criticado por órgãos ambientais e espeleologistas, tendo até rendido notas de repúdio por parte da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) e a Associação Nacional de Servidores da Carreira de Especialista de Meio Ambiente (Ascema Nacional). Segundo eles, essa medida pode causar danos irreversíveis e ignora a importância das cavernas para o país.
Luiza Santos Reis, pesquisadora de pós-doutorado no Instituto de Geociências da USP (IGc), demonstra em seu trabalho alguns exemplos concretos da relevância delas. Para sua pesquisa, Luiza foi até a Serra dos Carajás, Pará, de modo a estudar essas formações geológicas e, mais especificamente, o guano (acúmulo de excrementos) de morcegos depositados ali ao longo de milênios.
Seu estudo consiste em analisar os excrementos com base em técnicas da palinologia (estudo de pólen e esporos fossilizados) para identificar as mudanças ecológicas e climáticas da região. A pesquisadora afirma que “ao entendermos como essas alterações afetaram as espécies de morcegos, será possível fazer projeções futuras de como eles e a vegetação do local responderão a outros impactos”. Isso, especialmente no contexto de aquecimento global, será de grande importância para análises do clima frente a essas mudanças: “De que forma as espécies vão responder? Como isso vai impactar a vegetação? As florestas vão diminuir?”, complementa ela.
Além do seu potencial de estudo científico, há também um outro fator que fica em risco caso as cavernas estejam ameaçadas: seus habitantes, os morcegos. Estes animais, apesar de carregarem um estigma que envolve terror e doenças, têm uma enorme relevância ecológica. Na hipótese de eles perderem seus habitats e terem sua população diminuída, as consequências para o meio-ambiente seriam desastrosas. “Os morcegos aceleram o processo de sucessão florestal (conjunto de transformações que ocorrem na composição e na estrutura de uma vegetação ao longo do tempo), dispersão de sementes, polinização e controle de pragas”, diz Luiza.
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