A cobertura vacinal de crianças de até 5 anos está em queda desde 2015 e piorou durante a pandemia da Covid-19, segundo a UNICEF. Para especialistas, o dado representa uma ameaça a prevenção de doenças erradicadas no Brasil – em levantamento, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) registrou que, em 3 anos, a vacinação contra a poliomielite caiu de 84,2%, em 2019, para 67,7%, em 2021, motivo de alerta pois o poliovírus pode voltar a circular, por exemplo. Mas por que os pais deixam de vacinar seus filhos? Fake news, renda familiar e falta de orientação médica são apontados como causas da situação.
O estudo de Érica Marvila, doutoranda em saúde pública pela Universidade de São Paulo, sobre a hesitação materna em vacinar revelou que a decisão pela não imunização do filho está ancorada, sobretudo, nas crenças e medos dos pais. Com a intensificação das fake news durante a pandemia da Covid-19, o problema se agravou: “O fácil acesso às redes sociais permitiu que informações equivocadas e erradas acerca das vacinas circulassem com mais facilidade entre as famílias brasileiras, afetando a escolha dos responsáveis”.
Segundo a pesquisa, os relatos de reação adversa após imunização da criança e a falta de orientação dos profissionais de saúde, durante a fase pré-natal ou no pós-parto, estão relacionados à menor completude do esquema vacinal. Enquanto isso, a hospitalização de crianças de até dois anos e problemas de saúde materna durante o parto ou nos primeiros sete dias de vida do bebê são associados a maior completude do esquema vacinal. Além dos fatores apontados, a renda familiar é um elemento relacionado à decisão: quando ela está abaixo de dois salários mínimos, há mais hesitação em vacinar os filhos.
Embora haja a crença de que os pais possam escolher pela imunização ou não do público infantil, o primeiro parágrafo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) torna “obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”. Caso haja descumprimento, os responsáveis podem pagar multas e até perder a guarda da criança.
O Estado, no entanto, não faz as aplicações de forma forçada. Na realidade, ele cria maneiras indiretas que resultam na vacinação do público infantil. Um exemplo disso é que, em alguns locais do Brasil, é necessário apresentar a carteira de vacinação para a matrícula em escolas do ensino básico. Também é comum que programas de redistribuição de renda solicitem o documento antes de conceder o benefício.
Marvila afirma que “o movimento antivacina ainda é pouco organizado no Brasil, mas não se pode ignorar a presença e o impacto dele nas decisões da sociedade”. Para ela, a desinformação é uma aliada desse grupo, o que evidencia a necessidade do combate às fake news.
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