Um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), publicado em março pela Cambridge University Press, revelou que o alongamento seguido do treinamento resistido – exercícios que aumentam a força dos músculos, geralmente com o uso de pesos – desencadeia alterações estruturais e moleculares na junção miotendínea.
Durante os experimentos, que tiveram a duração de oito semanas, 32 ratos foram divididos em quatro grupos. O primeiro deles era composto por animais sedentários. O segundo, por animais que foram submetidos somente a um exercício resistido, em que eles subiam degraus carregando pesos. O terceiro grupo incluía animais que realizaram apenas o alongamento, enquanto os ratos do último grupo foram submetidos a ambos os exercícios.
Os pesquisadores observaram que os indivíduos do último grupo apresentaram um desenvolvimento mais acentuado da junção miotendínea – região entre o tecido muscular e o tendão, onde ocorre a transferência de força a partir dos movimentos contráteis. Isso foi constatado por meio de alterações nas características de determinadas estruturas. “Observamos um aumento no comprimento dos sarcômeros [unidades responsáveis pela contração das células musculares] e de outros elementos da região, como a lâmina basal e os feixes de colágeno”, relata Adriano Ciena, professor da Unesp que participou do estudo.
“As mudanças nos sarcômeros podem provocar uma melhora na contração muscular, o que reduziria a possibilidade de se vir a ter lesões”, explica Marucia Chacur, pesquisadora do ICB-USP, cujo laboratório realizou as análises moleculares da pesquisa. Quando se trata da junção miotendínea, prevenir lesões é fundamental, uma vez que essa área é predisposta a distensões e rupturas musculares.
Além disso, observou-se um incremento nos fatores de crescimento fibroblástico FGF 2 e FGF 6, que são as proteínas que regulam diversos processos celulares, como a proliferação, a diferenciação e a regeneração. A presença aumentada desses fatores indica o crescimento da matriz extracelular (rede de proteínas e outras moléculas secretadas por células) presente na junção.
Segundo o pesquisador da Unesp, todas essas mudanças possibilitam “adaptações no desenvolvimento das características morfológicas e moleculares da região”, levando a “um aumento da área de contato entre os elementos musculares e tendíneos na matriz extracelular”. Esse maior contato pode significar uma melhoria na resistência a choques e outros impactos. No entanto, o estudo não analisou esse aspecto, pois isso exigiria testes físicos que poderiam comprometer as análises estruturais e moleculares.
Os pesquisadores entrevistados acreditam que as descobertas em questão podem auxiliar no desenvolvimento de tratamentos preventivos para atletas e pessoas que praticam esportes em geral. “A partir da análise morfológica dos tecidos, comprovamos que certas modalidades de atividades físicas causam alterações que serão benéficas para o indivíduo a longo prazo. Estamos mostrando, portanto, um tratamento não-farmacológico e não-invasivo capaz de evitar lesões. Geralmente não se faz um tratamento dessa forma: o mais comum é que o atleta, primeiramente, adquira a lesão para, só então, tratá-la”, ressalta a pesquisadora do ICB-USP.
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