
A organização social moderna exige um grande consumo de água, seja em atividades domésticas, industriais, agropecuárias ou de geração de energia. Ao mesmo tempo, a qualidade da água se altera conforme o padrão de cobertura de vegetação natural e de usos antrópicos (agrícolas e urbanos), que podem funcionar tanto como fontes quanto como barreiras de poluentes.
Para entender como a qualidade da água varia em pequenas bacias hidrográficas, pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) utilizam modelos estatísticos aplicados à região da bacia do rio Corumbataí, no centro-leste paulista.
Um dos elementos importantes na manutenção de uma boa qualidade hídrica é a presença de vegetação nativa na bacia hidrográfica. Chamada de floresta ripária, reduz a chegada de sedimentos e contaminantes ao leito dos rios. Mas a vegetação sozinha, embora relevante, nem sempre é suficiente. Para evitar a contaminação da água, estratégias preventivas como implementação de técnicas de conservação do solo e de melhor manejo dos cultivos precisam também ser aplicadas.
A eficácia da presença de vegetação e do manejo do solo também dependem do regime de chuvas: a ocorrência de chuvas muito fortes tende a aumentar a erosão e o transporte de compostos e sedimentos para os rios, enquanto períodos de secas reduzem esse transporte difuso.
A proposta do trabalho da pesquisadora é testar se a cobertura vegetal (nativa e de áreas agrícolas) e se o regime pluvial (quantidade de precipitação e número de dias sem eventos de chuva) influenciam parâmetros de qualidade hídrica, como concentração de oxigênio dissolvido e quantidade de fósforo e nitrogênio — elementos indicadores da presença de matéria orgânica na água. Na primeira parte da pesquisa, o foco são os subafluentes, rios de pequeno porte na estrutura da bacia hidrográfica, já que eles respondem mais diretamente aos efeitos da paisagem em seu entorno.
Além disso, abordagens como a utilizada na pesquisa contribuem para entender cenários possíveis ligados às mudanças climáticas. Nas regiões tropicais, chuvas pesadas e secas prolongadas tendem a ser cada vez mais comuns nos próximos anos, como aponta o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Assim, compreender como mudanças no regime de chuvas interagem com os diferentes usos do solo para definir a qualidade dos recursos hídricos pode favorecer a adaptação às condições futuras do clima, preservando a qualidade da água não só para consumo humano, mas também para o funcionamento saudável dos ecossistemas.
Faça um comentário