No começo surgem tremores leves nas mãos e nos dedos, aos poucos segurar uma xícara de café se torna uma tarefa desafiadora. Chega então a dificuldade no andar e perdas no equilíbrio, que levam a quedas constantes e machucados. No fim, até mesmo falar é difícil, pois as coordenações motora e cognitiva estão comprometidas.
O avanço do mal de Parkinson é lento e progressivo, o que torna dramática não só a vida dos portadores da doença, mas também de seus familiares e amigos. Só no Brasil, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2020, são 200 mil pessoas afetadas por essa doença que não tem cura.
A falta de compreensão completa dos mecanismos neurológicos da doença de Parkinson desponta como um dos principais entraves para a elaboração de um tratamento mais duradouro. A busca por este conhecimento é o que norteia o trabalho de Beatriz de Andrade de Faria, pesquisadora do Laboratório de Neurociências do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ/USP).
O foco está, mais especificamente, nos mecanismos inflamatórios que ocorrem no quadro da doença. A pesquisadora explica que o Parkinson produz inflamação nas células de uma região cerebral conhecida como ‘substância negra’, responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor. “Essa resposta inflamatória ocorre via receptores purinérgicos. São eles a chave para o entendimento de todo o mecanismo inflamatório”, explica.
Os receptores purinérgicos se localizam nas membranas plasmáticas e estabelecem uma espécie de linha de comunicação entre as células em eventos de curta e longa duração associados à inflamação e morte celular. “O escopo da pesquisa coloca luz em uma classe de três receptores purinérgicos ativados por ATP [uma molécula bioquímica que ‘estoca’ energia]: o P2X7, P2Y1 e P2Y6”, detalha Beatriz de Andrade de Feria. Para cada um destes receptores, é possível o encaixe, como se fossem peças de quebra-cabeça, com moléculas que podem ativar (chamada de agonista) ou reprimir (chamada de antagonista) uma resposta biológica específica.
O grupo de pesquisa liderado pelo Professor Alexander Henning Ulrich, ao qual pertence Beatriz, já conseguiu identificar moléculas antagonistas capazes de reprimir o processo inflamatório e proteger células que produzem dopamina da morte. Os estudos são feitos em modelos animais.
Diante destes resultados, Beatriz considera que sua pesquisa é uma etapa decisiva no desvendamento do mecanismo envolvendo os receptores purinérgicos: “Se conseguirmos compreender como, sob o ponto de vista da estrutura e da reatividade, essas moléculas induzem as respostas observadas, produzir fármacos capazes de neutralizar o quadro inflamatório se torna possível”, ressalta a pesquisadora.
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