Independentemente da área do conhecimento, é comum que exista um receio e, muitas vezes, até um preconceito em relação aos cursos não presenciais. A pandemia tem colaborado para a quebra desse paradigma, já que os cursos online têm sido, na maioria dos casos, a única alternativa possível. Mas, ainda assim, é comum o pensamento de que o curso presencial necessariamente apresentará maior qualidade de aprendizagem.
No entanto, o ensino à distância pode, sim, ser importante. Camila Huanca, doutoranda da Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP), mostra isso por meio de sua dissertação de mestrado a respeito dos Massive Open Online Courses (MOOCs) na odontologia. A pesquisadora faz parte do Núcleo de Telessaúde FOUSP-SAITE, grupo que, segundo ela, possui uma visão mais educacional sobre a odontologia.
Mas para compreender o tema, é necessário, primeiro, entender o que são os MOOCs. Camila explica: “Massive quer dizer que é um curso para uma grande quantidade de pessoas. Então tanto o modelo pedagógico quanto tecnológico é desenvolvido para o curso através de uma equipe multiprofissional e transprofissional, e já tem pré-estabelecido que é para ser para uma grande quantidade de pessoas. O Open é porque é aberto, gratuito. Online, são cursos em que precisa ter internet e um computador, precisa ter essa via de comunicação. E o C é de Courses. Então são cursos para uma grande quantidade de pessoas, em que é necessário ter internet e são gratuitos.”
Em sua tese, Camila analisou a oferta do “Saúde Bucal da Gestante”, curso fruto de parceria entre a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) e a Fousp. Ela afirma que “esse tema é visto em várias disciplinas da odontologia, mas de uma forma separada, com a visão da disciplina. O curso dá uma visão integrada sobre a gestante, por isso eu acho que um curso desse tipo pode proporcionar essa visão integrada.”
A pesquisadora acredita que os MOOCs sejam um bom complemento para a profissão odontológica, uma vez que permitem uma visão interdisciplinar a respeito de determinado tema. Soma-se a isso o fato de que esse modelo de aprendizagem, por atingir públicos de diversas universidades, permite que os estudantes tenham visões de diferentes grupos de estudo a respeito de um mesmo assunto.
Um dos dados obtidos por Camila foi o de que o curso sobre a gestante recebeu inscrições de 2360 municípios diferentes, ou seja, atingiu cerca de 40% do Brasil. Essa informação ressalta a importância dos MOOCs para a disseminação da informação, já que possuem um alcance muito maior em relação aos cursos presenciais e, muitas vezes, atingem diferentes partes de um país ou até do mundo.
Com isso, e, também por serem gratuitos, esses cursos aproximam da USP aqueles que não possuem acesso a ela. A doutoranda acredita que o fato de o curso analisado ter seu conteúdo produzido por docentes da Fousp foi um dos atrativos importantes para o sucesso do curso.
Ainda que os dados sejam positivos, a pesquisadora verificou que apenas cerca de 1,3% dos MOOCs existentes correspondem à área da odontologia. Ela afirma que a oferta na área da saúde já é reduzida em relação à área de ciências humanas, mas, mesmo considerando apenas o escopo da saúde, os cursos sobre odontologia representam uma porcentagem pequena.
Além disso, esses dados positivos não garantem boa qualidade a todos os MOOCs. Segundo Camila, “você vai encontrar muito material que não é adequado, não foi pensado pedagogicamente. Mas vamos, também, encontrar coisas boas”. É o caso dos cursos do Núcleo de Telessaúde e Teleodontologia da Fousp, que produz cursos que, junto da UFMA e da UNASUS, recebem muita atenção em seu planejamento pedagógico.
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