Conheça Sandra Guinle, artista e educadora que promove a reconstrução da infância e das brincadeiras

Esculturas e painéis da artista retomam cenas da juventude e da maternidade com o objetivo de aproximar as pessoas

Sandra Guinle em seu processo de criação [Imagem: Acervo Pessoal/ Sandra Guinle]

Sandra Guinle é uma artista plástica e educadora conhecida por suas obras relacionadas à infância e à maternidade. Com um grande toque pessoal, ela produz esculturas pequenas e outras que chegam a até 2 metros por meio dos mais diversos materiais. Para ela, sua arte é um retrato de suas memórias, “de um tempo gostoso”, e tem a intenção de aproximar infâncias.

A artista destaca a importância das memórias, que servem como forma de resgate e arquivamento da história. “Memórias são raízes. Se um prédio não tiver estrutura [raízes], vai cair”, ilustra em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN)

Sandra também diz considerar importante a chegada das novidades na vida de jovens, como é o caso da tecnologia. A artista se mostra contra o desmerecimento da infância contemporânea e de comentários de que as crianças de hoje não são felizes por terem menos contato com a terra. Segundo ela, nós apenas vivemos um novo momento, mas que, ainda assim, “é importante olhar para trás”.

Sandra também conta que, em uma exposição sua no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de São Paulo, ela via muitos pais mostrando aos filhos as obras que remetiam a brincadeiras de sua época, como bolinha de gude e pião. Ela explica que é importante pensarmos em como as coisas chegaram no que são hoje, o que também faz parte do processo educacional. “Se não resgatarmos, não vamos lembrar”, ressalta.

Chegada ao Museu de Educação e Brinquedos (MEB)

Sandra Guinle nasceu no interior de São Paulo, na pequena cidade de Monte Mór, que fica a 122 quilômetros da capital e tem cerca de 60 mil habitantes. Em 2005, ela levou sua série “Cenas Infantis” ao MAC no Ibirapuera, onde chegou a receber um público de 900 a 1200 pessoas por dia. Nesse período, professores da Faculdade de Educação (FE) da USP foram visitá-la e gostaram do trabalho, desenvolvendo um elo entre a artista e a universidade. Por meio dessa parceria, várias oficinas de criação de brinquedos foram lecionadas por Sandra.

Escultura em bronze “Ciranda Mista”, da série “Cenas Infantis” [Imagem: Acervo Pessoal/ Sandra Guinle]

Anos depois, devido a um desejo de ter suas obras expostas gratuitamente em um lugar com acesso livre, a artista doou o acervo de “Cenas Infantis” para o Museu de Educação e Brinquedos (MEB), localizado na FE. Dentre as obras, havia miniaturas, grandes esculturas e painéis táteis. Por conta de limitações do espaço do MEB, algumas das obras que são maiores foram realocadas temporariamente para a biblioteca da faculdade.

Sandra diz que, lá, os arte educadores fazem releituras do trabalho dela e, antes da pandemia, produziam diversas oficinas. Além disso, a artista também tem um ateliê localizado no seu apartamento.

O brincar

Os brinquedos e as brincadeiras constituem parte essencial da formação de uma criança. Sandra vê essa necessidade ainda mais acentuada no período de pandemia, em que as crianças ficam em casa sem a possibilidade de sair para brincar. 

A artista destaca que nas oficinas com crianças vê a força presente na criação do próprio brinquedo. Por meio de argila e outros materiais, ela observou que muitas crianças mergulhavam no processo de fabricação e tinham a autoestima elevada quando viam o brinquedo feito por elas mesmas pronto em mãos. 

Sandra destaca o papel do educador nesse processo artístico. Para ela, “arte é o terreno da liberdade”, e o profissional da educação deve ter a sensibilidade de guiar esse aprendizado, além da responsabilidade de impor limites sobre o que é certo ou não. A artista diz que, hoje, muito se fala sobre construir pontes, mas ressalta que também é necessária a construção de muros por meio de um trabalho de direcionamento com cuidado e carinho.

A educadora também tem uma linha de ação de destaque com crianças com deficiência. Ela sabe se comunicar em Libras e já teve exposições que contavam com explicação das brincadeiras em Braille. Além disso, contabiliza esforços na produção de painéis táteis, que ajudam na percepção da obra para quem tem visibilidade reduzida. 

Sandra ao lado dos painéis táteis para portadores de baixa visão [Imagem: Acervo Pessoal/ Sandra Guinle]

Pandemia e exposição online

Um dos propósitos que Sandra tem com suas obras é receber os mais diversos adultos e crianças, promovendo a interação deles com as obras. A artista vê uma grande importância no toque nas obras para que o público possa percorrer o mesmo caminho que ela percorreu durante o processo de produção.

Na série “Pequenas Bailarinas”, por exemplo, as crianças percebem que podem dançar, se movimentar e interagir com a obra, explica a artista. Ela se diz sem compromisso estético, mas com uma clara vontade de aproximar o espectador à obra e à artista.

Escultura “Pequeno Cisne”, da série “Pequenas Bailarinas” [Imagem: Acervo Pessoal/ Sandra Guinle]

Com a pandemia, esse contato presencial foi afetado. Ainda assim, a educadora se reinventou e não fechou completamente as portas para quem deseja ver suas obras. No seu site, que pode ser acessado aqui, há a descrição das obras juntamente com fotos delas. Além disso, Sandra diz que está desenvolvendo uma exposição virtual para que, mesmo que não da maneira ideal, com o toque, as pessoas possam continuar conhecendo sua arte.

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