Mulheres portadoras de artrite reumatoide – uma doença crônica autoimune que provoca dor e inflamação nas juntas e articulações – têm maiores riscos de desenvolver doenças cardiovasculares quando consomem mais alimentos ultraprocessados. São aqueles com altos níveis de sal, açúcar, óleos, gorduras e aditivos, e com poucas fibras, proteínas e vitaminas, a exemplo de doces, refrigerantes, congelados, fast foods, salgadinhos.
A conclusão vem de um estudo do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição (Applied Physiology and Nutrition Research Group) da FMUSP e EEFE-USP, coordenado por Bruno Gualano e Hamilton Roschel. O último, que também é co-coordenador do Laboratório de Avaliação e Condicionamento em Reumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, explica que o trabalho contou com o esforço de alunos envolvidos tanto com o estudo, diretamente, quanto nas avaliações, no tratamento estatístico, nas análises laboratoriais, bem como médicos responsáveis pelos ambulatórios.
Nesse estudo transversal, 56 mulheres na pós-menopausa diagnosticadas com artrite reumatoide tiveram suas dietas avaliadas de acordo com o nível de processamento dos alimentos – não processados ou minimamente processados, ingredientes culinários, processados e ultraprocessados. O risco cardiovascular foi medido através do algoritmo de Framingham, que leva diversos fatores em conta para estimar as chances de desenvolvimento de doenças relacionadas ao coração e vasos sanguíneos em 10 anos.
Os resultados mostraram que um maior consumo de alimentos ultraprocessados por parte desse grupo estava associado a riscos maiores de doenças cardiovasculares segundo o escore de Framingham, bem como um perfil metabólico pior. Por outro lado, um maior consumo de alimentos minimamente ou não processados apontava para um menor risco de apresentar tais doenças na próxima década de vida.
“As doenças cardiovasculares são características da artrite reumatoide, a principal causa de mortalidade nesses pacientes. Isso se dá pela própria patogênese e pela terapia medicamentosa”. Hamilton Roschel explica que os resultados do estudo indicam, portanto, riscos ainda maiores de problemas já comuns para esse grupo.
Apesar de a presença de conservantes nos alimentos ser frequentemente questionada, Hamilton explica que quaisquer conclusões que relacionem as doenças cardiovasculares à presença de aditivos são especulativas, pois faltam estudos que investiguem seus efeitos no organismo. “É mais plausível assumir que o problema se dê em função da composição nutricional: quantidade de sódio, gorduras trans, excesso de calorias, açúcares simples”.
É importante ressaltar que a pesquisa foi conduzida apenas com pessoas do sexo feminino, já que a doença acomete duas vezes mais mulheres do que homens. Não há ainda a certeza de que esses resultados valem também para portadores do sexo masculino. “Embora isso precise, sim, ser testado em homens, não há indícios na literatura de que a resposta seria sexo-dependente”, observa Hamilton.
O coordenador considera que as descobertas da pesquisa são sim um primeiro indício para pautar orientações na dieta de mulheres com artrite reumatoide. “Entretanto, para saber qual o efeito da alteração do padrão alimentar sobre o risco cardiovascular (ou outro parâmetro da doença, por exemplo), são necessários estudos prospectivos”, aponta.
Estima-se que a doença atinja de 0,5% a 1% da população brasileira, e seu tratamento costuma ser baseados em anti-inflamatórios, que podem ser acompanhados de corticoides e/ou de imunossupressoras — tal tratamento medicamentoso varia conforme a gravidade e estágio da doença —, em alguns é indicado até a intervenção cirúrgica. Além desses tratamentos, a fisioterapia e terapia ocupacional também contribuem para que pacientes retomam um melhor condicionamento.
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