Evento discute a pandemia no âmbito internacional e social

Cobertura de live promovida pela RI USP Jr., "Coronavírus – Impactos nas relações internacionais e nas minorias sociais"

Foto: Divulgação

O evento realizado pela empresa júnior trouxe convidados relevantes para a discussão da importância e complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e legados da pandemia. Também foram trazidos para o debate temas como as dificuldades do isolamento e distanciamento social nas diferentes camadas sociais e problemas como a desinformação. 

Nos dias 4 e 5 de setembro, a RI USP Jr., Empresa Júnior de Relações Internacionais do IRI, sediou o IX RI Em Debate. O evento é realizado anualmente com o intuito de discutir temas atuais e as relações políticas, econômicas e sociais dos países envolvidos. O tema deste ano foi Coronavírus – Impactos nas relações internacionais e nas minorias sociais. Devido à situação atual, o evento foi realizado por meio de uma live no Youtube e contou com quatro palestrantes e cerca de 150 telespectadores nos dois dias. 

O primeiro dia de evento era centrado no “Coronavírus e a Ordem Mundial” e contou com a presença de Fernanda Terrazas, advogada e assessora jurídica do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), e Maria Carolina Loureiro, professora do Mestrado Profissional em Governança Global da PUC-SP. As palestras foram mediadas pelo professor e orientador da RI USP Jr., Yi Shin Tang. 

Mediador e palestrantes, da esquerda para a direita – Foto: YouTube/ Reprodução

A professora Maria Loureiro relembrou os números de infectados e mortos pelo coronavírus afirmando que apesar de ser ‘precoce presumir os legados da pandemia’, já há alguns indícios deles. “A pandemia atual acontece em um estado de emergência que requer uma resposta interdisciplinar, intimamente relacionada com decisões políticas e com interesses do mercado” afirma fazendo uma analogia de que “no meio do caos, tem os que choram e os que vendem lenços”.

Por sua vez, a advogada Fernanda Terrazas trouxe para o debate a importância do SUS e a quantidade de atividades realizadas por ele que não são reconhecidas. 

“A gente enxerga o SUS como quem faz a assistência à saúde, mas isso é uma parte muito pequena. É pelo SUS que conseguimos ofertar saúde em todos os lugares do país, porque tem regiões pequenas que não atraem à iniciativa privada, como áreas de população indígenas e quilombolas.” 

Além disso, Terrazas lembra que é o SUS que faz o controle da qualidade de medicamentos, comida e água. A advogada reconhece também que não é um sistema perfeito, que ainda tem muitos problemas e pontos a melhorar, mas lamenta que a população brasileira ainda não reconheça o SUS como um patrimônio.

Ambas as palestrantes também se posicionaram em relação às medidas tomadas pelos governos para o combate à doença. Loureiro refletiu sobre o “conflito interfederativo tanto das normas jurídicas quanto dos discursos, da narrativa”, apontando também o enfraquecimento do Ministério da Saúde e sua militarização, além da ausência de ministro, na época que ocorreu o evento.

A professora aponta ainda que é necessário que ocorra uma comunicação lúcida. No entanto, segundo ela, “a nossa é marcada por um embate entre a comunidade científica e as autoridades políticas, pela desinformação”, citando o consórcio da mídia para coleta de dados estaduais e municipais do número de casos. 

O mesmo assunto foi abordado por Terrazas, que afirmou que, embora estados e municípios tenham um papel muito forte em relação às medidas de saúde, ainda têm dependência de orientação da União. A assessora jurídica do Conasems lembra que durante a pandemia vimos uma ‘situação inversa’, do Ministério da Saúde ‘brigando’ com os órgãos de saúde mundiais’ e realça que ‘é necessário uma coordenação do Ministério da Saúde em questões comuns a todos nacionalmente.

 “Existem pontos que só o ente nacional é capaz de enfrentar, como o insumo de saúde – no qual nós somos totalmente dependentes de importação”, registrou a especialista, fazendo referência às importações de EPIs vindos da China e também da Índia. 

O segundo dia de evento foi realizado com a presença de outros dois palestrantes: a coordenadora executiva do Núcleo Independente Comunitário de Auxílio (NICA) de Jacarezinho, Bianca Peçanha, e o coordenador da Rede de Cuidados em Saúde para Imigrantes e Refugiados, Alexandre Branco. O tema central dessa mesa era “Coronavírus nas Zonas Periféricas”. 

Mediadora e palestrantes, da esquerda para a direita – Foto: YouTube/ Reprodução

Bianca Peçanha destacou que apesar da primeira vítima diagnosticada com Covid-19 no Brasil ter sido uma mulher branca que retornava da Europa, a primeira pessoa que faleceu devido à doença foi uma mulher negra que trabalhava como empregada. 

A coordenadora da NICA de Jacarezinho também falou sobre a situação das favelas brasileiras, apontando que muitas famílias, além de terem dificuldade de acessar o auxílio emergencial, dependem de cestas básicas. Peçanha destacou que com a pandemia, os problemas são ainda mais aprofundados.

Ela ainda se coloca no lugar do trabalhador. “A favela nunca cumpriu o isolamento social, pois a maioria trabalha fora de casa. […] Com o Estado abrindo shoppings, o transporte público lotado, por que eu não vou no final de semana para a praia?”

Alexandre Branco, coordenador da Rede de Cuidados em Saúde para Imigrantes e Refugiados, trouxe novas perspectivas para a conversa. “A pandemia não trouxe tantas novidades assim para imigrantes e refugiados, pois sempre viveram nas condições de mobilidade que nós vivemos agora, para eles não é exatamente um novo normal.”

Ao todo, os comentários realizados no chat ao vivo do evento foram todos positivos. A maioria dos espectadores eram membros da empresa júnior e o evento, apesar da quantidade de palestrantes reduzida em relação aos anos anteriores, manteve a qualidade de discussão e participação.

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