Naufrágios para mergulho turístico precisam ser feitos com cautela

Programa do Governo Federal busca incentivar turismo com naufrágios artificiais

Naufrágio do navio Riobaldo. Imagem de ICMbio

No dia 16 de setembro deste ano, dois barcos foram naufragados na costa de Tamandaré (PE) como parte de um programa do Governo Federal, liderado pelo Ministério do Turismo de criar áreas de mergulho turístico em naufrágios e para oferecer abrigo à vida Marinha. De acordo com o presidente Jair Bolsonaro: “Outros naufrágios virão”.

As embarcações naufragadas foram os navios Riobaldo e Natureza, ambos pertencentes ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (CEPENE), e a ação foi feita em conjunto com o Instituto Chico Mendes (ICMBio), com a Marinha do Brasil, com o Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e com a Polícia Federal.

Riobaldo e Natureza foram afundados a cerca de 27 metros de profundidade, distantes 40 metros um do outro, a sete quilômetros da costa de Tamandaré. De acordo com o Presidente da República, além de Tamandaré, Porto de Galinhas e o estado de Alagoas desejavam as embarcações para o fomento do turismo.

Para o professor e pesquisador Tito Lotufo, a ação de naufragar navios pode ser vista como algo positivo, desde que sejam respeitados os procedimentos necessários para evitar a contaminação e poluição da vida marinha, tais como: a remoção de tintas, graxas, combustíveis e equipamentos. Além disso, ele comenta que geralmente são feitos recortes nas laterais das embarcações para facilitar a entrada e saída de mergulhadores.

Ele destaca ainda que “é importante garantir que essas embarcações naufragadas não ficarão em regiões de constante trânsito de navios, pois espécies invasoras podem ser transportadas no casco das embarcações e acabarem se fixando na região, o que seria uma ameaça à Área de Proteção Ambiental (APA) de Tamandaré”.

Embarcações Riobaldo e Natureza prestes a serem naufragados. Imagem de ICMbio

Lotufo afirma ainda, que é preciso garantir que esses naufrágios aconteçam em uma área distante o suficiente da APA, para que não afete o equilíbrio ambiental da região, o que poria em risco as espécies nativas.

A Embratur e o Governo Federal ainda não deram mais detalhes de como serão realizados os próximos naufrágios, nem apresentaram um cronograma ou em quais regiões acontecerão.

O professor Lotufo afirma que a instalação de recifes artificiais e naufrágios programados são uma prática comum em todo o mundo, tanto para a criação de “paraísos de mergulho”, que geralmente são feitas em áreas de fundo de mar arenoso, que possui menos chances de causar impacto ambiental, quanto para evitar a pesca por arrasto em regiões de vulnerabilidade.

Ele explica que a pesca de camarão, bacalhau e outras espécies é comumente realizada com redes de arrasto, que raspam o fundo do mar, recolhendo não apenas os animais almejados pelos pescadores, mas toda a biodiversidade presente na área. Para evitar isso, alguns países adotaram a prática de naufrágios e criação de recifes que oferecem resistência a esse tipo de pesca e ainda ajudam a recuperar as áreas degradadas.

No entanto, ele alerta que ainda que seja apenas com a intenção de fomentar a prática do mergulho e estimular o turismo, é importante que o Governo e os órgãos envolvidos usem a oportunidade para realizarem programas de conscientização e educação sobre a preservação da vida marinha. Do contrário, a prática turística pode se transformar em um causador de desequilíbrio.

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