Em testes usando células humanas conservadas em laboratórios, pesquisadores da USP em parceria com o Hospital Albert Einstein constataram que o fármaco experimental reversina é capaz de frear a multiplicação das células cancerígenas da neoplasia mieloproliferativa. Os estudos foram desenvolvidos pelo Instituto de Ciências Biomédicas e a Faculdade de Medicina da USP na cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
“Este tipo de câncer ocorre na faixa etária de 50 à 70 anos, possui medicamento comercial para quimioterapia (o ruxolitinibe) e o procedimento de medula óssea como soluções. Contudo, a maioria dos pacientes submetidos ao tratamento com o medicamento não respondem aos efeitos e, por conta da idade, também não podem realizar o transplante de medula
Informações de base para o futuro
A pesquisa procurou entender um pouco mais da doença e oferecer informações de base para avanços que resultem em tratamentos para essas pessoas não contempladas. Os pesquisadores fizeram a caracterização de 84 genes presentes no citoesqueleto das células, uma parte fundamental da estrutura celular que a mantêm com vida.
Dois genes expressos na situação com a neoplasia foram selecionados por sua importância no processo: as proteínas aurora-quinase A e aurora-quinase B. “Elas participam do processo, na formação da mitose, da geração da célula-mãe em duas células filhas. E isso acontece de forma muito exacerbada no câncer, porque o tempo todo está multiplicando as células”, explica o professor João Agostinho Machado-Neto, do Laboratório de Biologia do Câncer e Antineoplásicos.
Coordenando o grupo de estudos, o professor conta que o procedimento decidiu mirar nas auroras-quinases como alvo do tratamento. “Usamos um fármaco chamado de reversina. É uma molécula que inibiu vários alvos. Têm uns quatro ou cinco alvos mais conhecidos dela. E dentro deles, as auroras-quinases”.
Os modelos utilizados foram separados em: um que respondia e o que não tinha retorno ao tratamento convencional com ruxolitinibe. Agora, com o uso da reversina como opção, os resultados mostraram que ela conseguiu atuar em ambos. “As células responderam muito bem, fizemos vários ensaios e vimos que a reversina reduz a capacidade da célula se proliferar, ela mata essa célula tumoral”.
Quebra do ciclo
O efeito da inibição e morte se dá através da interrupção da mitose da célula. Ou seja, antes dela se multiplicar em duas células filhas, a reversina impede a expressão das proteínas auroras-quinases, essenciais no processo de proliferação.
“De uma certa forma, conseguimos interromper esse círculo vicioso. Pelo menos por um tempo, não sabemos ainda in vivo, mas in vitro ela conseguiu interromper esse ciclo”, aponta o professor João para as próximas etapas do estudo com modelos animais. “É ver se a reversina tem efeito tóxico, os efeitos em modelos vivos – que são mais complexos – para que haja mais informações”.
O fármaco não é usado clinicamente pois ainda não se sabe sobre a sua gama de efeitos em seres humanos. O professor conta que há outros medicamentos cujo alvo são a dupla de proteínas estudadas.
Também está sendo testada a reversina em situações onde a neoplasia é mais agressiva. “Nesse modelo com leucemias neoplasias linfoblásticas agudas, têm muitas auroras quinases também. E a reversina atua nessas células de maneira bem interessante, porque ela envolve múltiplos mecanismos de mortes”, cita o pesquisador.
Mesmo com muitas perguntas que ainda faltam ser respondidas para chegar até um real tratamento aos idosos, os experimentos coordenados pelo professor João e que teve apoio das agências de fomento à pesquisa Fapesp e CNPq, cumpriram uma missão. “Tentamos entender um pouco mais da doença e tirar informações que, de repente, não vai gerar um novo tratamento, mas servem de base para novos tratamentos efetivos”
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