No dia 23 de setembro, foi realizado no Instituto de Biociências da USP, o evento “Dia do Biólogo”, em comemoração ao dia 3 de setembro. Nesta ocasião foi montada uma mesa com dois palestrantes, Edison Kubo — membro do Conselho Regional de Biologia (CRBio-01) — e Wagner Valenti — diretor do Conselho de Inovação da Unesp — que expuseram como está a área de atuação que os biólogos em formação vão ocupar e quais são as diretrizes futuras da profissão.
Entre as discussões suscitadas no evento, os palestrantes comentaram pontos sobre o mercado de trabalho, possíveis campos de atuação, aspectos da legislação, além de comentarem sobre oportunidades de empreendedorismo na área da biologia.
Pluralidade na área de atuação
Primeiramente, Edison Kubo tratou de salientar em sua fala a complexidade e diversidade presentes no campo de atuação propiciado aos biólogos. Existe um crescente no número de profissionais que escolhem em atuar no mercado de trabalho externo às universidades e centro de pesquisas.
Por conta da Resolução nº 300, sancionada em 7 de dezembro de 2012, em que houve a colocação do ofício de biólogo apto a atuar na área da saúde, muitos biólogos optaram por seguir essa carreira e não mantiveram vínculos com o meio acadêmico. Dessa forma, o número de biólogos registrados no Conselho e ligados à parte de pesquisa e desenvolvimento científico foi um pouco reduzido, originando um grupo com, aproximadamente, dezesseis mil profissionais registrados.
Essas alterações nas características do campo de atuação dos biólogos também resultaram em mudanças de classificação. Uma divisão entre biólogos que trabalham como pessoa física ou pessoa jurídica foi necessária para abranger as diferentes áreas de trabalho. Como exemplo, podem ser citadas as ocupações com meio ambiente, biotecnologia e a recém aclamada área da saúde, que retratam a pluralidade de temas e formas de atuar nesse espectro.
A abrangência regional do Conselho também foi retratada por Kubo. Cerca de 40% dos biólogos registrados no Brasil estão alocados no CRBio-01, que é responsável por dar auxílio aos profissionais que atuam nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Biólogos na área da saúde
O membro do Conselho explicou as possíveis motivações que levam ao crescimento da atuação de biólogos na área da saúde. “Há um progresso aliado ao crescimento da preocupação com controle de pragas na área da saúde. Agora, há uma atenção não só com a praga, mas também com seu entorno, o bioma em que vive”, disse Kubo.
O CRBio-01 está buscando encontrar ainda mais áreas que possam inserir biólogos em suas estruturas de trabalho. Estudos de PRP (Plasma rico em plaquetas), cervejarias — por conta da fermentação — e análises tecnológicas com drones podem ser campos férteis de atuação para os biólogos.
No entanto, existe uma limitação para essa abrangência de áreas a serem ocupadas por pessoas formadas em biologia. Alguns campos de estudo exigem uma regulamentação própria para validar a atuação de um profissional. Nesses casos, surge a possibilidade dos biólogos auxiliarem os profissionais desta atividade.
Mercado de trabalho
Em seguida, Wagner Valenti demonstrou em sua fala um panorama acerca da realidade em que os profissionais que se formam em Biologia encontram-se.
Para Valenti, os biólogos que estão saindo das universidades têm pouca preocupação com o mercado de trabalho. O que ocorre em grande parte dos casos é estagnação da estrutura de pesquisa, em que os graduandos mantém apenas a ideia de seguir no meio acadêmico e construir suas carreiras privilegiando apenas esse meio.
No entanto, a repetição desse padrão torna-se problemática, uma vez que o número de bolsas para pesquisas nas universidades públicas vem diminuindo ao longo do tempo. Além disso, a diversidade do campo de atuação dos biólogos fica engessada no meio acadêmico e na área voltada para a educação fundamental e didática.
Um outro problema gerado pela exclusividade da atuação dos biólogos em pesquisas é o fato dos profissionais da área não conseguirem transformar seu conhecimento em produto, processo ou serviço. “Ao não conseguirem empreender, inovar e transformar aquilo que eles estudam em produto, outros profissionais acabam por ocupar seu espaço. Assim, objetos como economia circular e sustentabilidade, que são áreas que os biólogos poderiam atuar são deixadas de lado e assim eles vão perdendo espaço”, comenta Valenti.
Sendo assim, o membro do Conselho de Inovação da Unesp alerta os graduandos em biologia para que se atentem a direcionar a ciência, que gera muito conhecimento nas universidades, mas poucos produtos. Além disso, Valenti salienta que o papel das universidades é pensar e desenvolver conhecimento para elevar o nível de vida da população. Logo, essa tarefa poderá ser atingida com maior impacto através de uma mudança de mentalidade que envolva um pensar mais empreendedor.
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