Potencialidades de negros são destaque em encontro

Iniciativa ressalta representatividade como pré-requisito para inclusão social

Evento feito por estudantes tem programação que tramita entre cultura e política. [Imagem: Divulgação/Novembro Negro]

O dia da Consciência Negra, 20 de novembro, relembra o assassinato do líder quilombola – e símbolo da resistência negra – Zumbi dos Palmares. Com a ideia de marcar a data, surge o evento “Novembro Negro”, que acontece na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, nos dias 27 e 28 deste mês. “É o período de rememorar todos os esforços que nossos antepassados negros tiveram para que a gente conseguisse ingressar numa universidade pública de qualidade”, afirma Jacqueline Jaceguai, estudante de pós-graduação em Mudança Social e Participação Política (Promuspp) da EACH. 

A iniciativa é proposta por 12 estudantes de graduação e pós-graduação dos campi USP Leste e Cidade Universitária, e a EACH foi escolhida como local para sediar o encontro por ser mais próxima da periferia. A programação conta com atividades culturais e discussões políticas. “Essa variedade mostra as potencialidades e talentos dos negros em diversos campos”, pontua Caio Gabriel da Silva, graduando em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Para Jaceguai, abordar diferentes áreas é uma forma de romper estigmas, os quais rotulam estudantes negros como omissos: “estamos mostrando que somos capazes, temos competência e condições de equidade”.

“A cultura negra muitas vezes é vista somente pelo estereótipo. Como há muitos professores brancos, e poucos professores negros, é raro que haja interessados em pesquisar mais referências de literatura negra e trazê-las para a sala de aula”, opina Silva, destacando que mesmo nos momentos em que a literatura negra é citada no âmbito universitário, geralmente não é tão aprofundada. Para trazer uma maior inclusão do negro, o encontro trabalha em prol da representatividade. “Se não há representatividade, também não há inclusão. Nos sentimos muito deslocados nos espaços justamente porque não nos reconhecemos no outro”, explica Silva.

Representatividade diz, sobretudo, a se reconhecer no outro. “Fazemos esse trabalho para que tenhamos mais autores negros na universidade. Passamos anos observando a academia do lado de fora, dentre os muros. Agora que podemos ocupar esse espaço, nos posicionaremos para garantir que outros negros estejam aqui”, diz Jaceguai, que sintetiza essa questão como uma retribuição para com os antepassados, uma reciprocidade preocupada com o futuro.

Desse modo, as atrações contemplam balé afro, que valoriza aspectos da dança negra; e teatro com a peça Anja, a qual mostra a força da mulher negra e o modo com que ela se posiciona diante da sociedade. Também haverá batalha de rima, uma maneira de romper com o modelo formal de como realizar um evento na universidade; e um baile de samba rock. Outros destaques são a história do hip hop e a oficina de grafite. De acordo com Rafaela Campos, graduanda em Geografia pela FFLCH, as atividades foram sendo montadas a partir de contatos que os próprios estudantes, organizadores do evento, tinham.

“Eu sou do Paraná, sul do Brasil, e lá eu não tinha muita representatividade negra em qualquer espaço: político, cultural, na escola… Agora, por conta do evento, já conheci várias personalidades negras, artistas e intelectuais”, relata Campos. Ela ressalta que batalha de rima é feita pela comunidade Keralux, próxima à EACH e que costuma ter pouca presença na universidade por conta da necessidade de se identificar para acessar o campus, o que gera desconforto.

A banda Chá da Tarde também advém do Keralux. Rafael Pompeu – mais conhecido como Peu Morais – é um dos integrantes, que define a música como MPB, Música Periférica Brasileira. “Abordamos a questão da periferia na musicalidade. Vamos falar de algumas vivências, sentimentos”, diz Peu Morais, que também participará do debate sobre a invisibilidade de artistas negros. Quanto a isso, opina que o mais importante é que os invisíveis sejam escutados.

Caio Gameleira, graduando em Gestão de Políticas Públicas pela EACH, ressalta que a iniciativa não é só para os negros: “Brancos também precisam entender qual o lugar deles na sociedade, precisam saber sobre a discussão para poder ouvir outras realidades”. 

Da esquerda para a direita: Rafaela Campos, Caio Gameleira, Caio Gabriel da Silva, Rafael Pompeu e Jacqueline Jaceguai. [Imagem: Caroline Aragaki

O “Novembro Negro” acontece nos dias 27 e 28 de novembro, com atividades no período da tarde e da noite, no auditório Verde da EACH. Confira a programação completa por meio deste link

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