Busca por conforto leva proteção UV e ação bactericida a fibras naturais

Encapsulamento com nanotecnologia é estratégia para que fármacos e enzimas resistam por 50 lavagens

Fibras naturais proporcionam mais conforto do que as sintéticas. | Imagem: Divulgação/Creative Commons

Curativos médicos que matam bactérias e roupas com proteção aos raios UV já estão no mercado há alguns anos. O objetivo atual é incorporar tais propriedades em fibras naturais, “porque proporcionam um conforto que não existe nas sintéticas”, afirma Silgia Aparecida Costa, coordenadora do Laboratório de Pesquisa de Têxteis Técnicos (LPTT) da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

“Buscamos alternativas para não alterar esse conforto, além de usarmos polímeros provenientes de resíduos agroindustriais e extratos naturais”, complementa Costa. A confecção de têxteis com funcionalidades é feita a partir de nanocápsulas e nanopartículas com fármacos, enzimas e extratos naturais. Ela comenta que “a nanotecnologia é usada para aumentar a área de superfície dos materiais, melhorando a incorporação dos princípios ativos.”

Quanto às funcionalidades, a coordenadora diz que “é possível desenvolver tecidos com uma ou múltiplas, a depender do produto incorporado ao têxtil e das necessidades de aplicação”. Por exemplo, o grupo está criando um amaciante com propriedade bactericida, para ser utilizado em lavanderias hospitalares. “Ele é composto de nanopartículas, mas também contém o princípio ativo contra o mosquito da dengue”, afirma a coordenadora. 

A diversificação e a durabilidades são objetivos do emprego da tecnologia. De acordo com Costa, “novas ideias de materiais e acabamentos vão sempre surgindo. A área têxtil nos permite diversificar. Procuramos inserir os fármacos e enzimas dentro de micro e nanocápsulas. A intenção é fazer com que os produtos aplicados durem no mínimo 50 lavagens”.

Além disso, os estudos exploram a aplicação de extratos vegetais para obter tingimento natural e oferecer as funcionalidades já mencionadas. A professora da EACH comenta que a enzima lisozima (obtida da clara de ovo) atua na parede das bactérias promovendo o rompimento, o que causa a morte delas: “Temos aplicado esta enzima em curativos médicos, e também utilizamos a bromelina (proveniente do abacaxi) e a papaína (do mamão).”

Tecido com ação bactericida. | Imagem: Reprodução/GOMES, A. V. S; COSTA, N. R. V; MOHALLEM, N. D. S.

No que diz respeito à produção de tecidos com proteção UV, a pesquisadora afirma que “a busca por vestimentas com essa propriedade se agravou com o aumento do aquecimento global e do efeito estufa”. Soma-se a isso a alta taxa de câncer de pele, o tipo mais frequente (com 33% dos casos) no Brasil, reportado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) em 2018. 

Os tecidos com proteção UV já eram possíveis com a criação do poliéster, em 1833, e da poliamida, em 1930. “Porém, para funcionalizar uma fibra sintética, o processo é relativamente simples; quando se trata de fibras naturais, a tarefa é mais complexa”, acrescenta Costa. A iniciativa de colocar essa propriedade em fibras naturais de algodão foi da EACH com a Universidade de Engenharia de Lima, no Peru.

Diferença do tecido sem e com proteção UV. | Imagem: Reprodução/GOMES, A. V. S; COSTA, N. R. V; MOHALLEM, N. D. S.

A maior parte das produções do laboratório envolvem parceiros internacionais e nacionais da USP. Para Costa, os maiores desafios enfrentados pela pesquisa estão na obtenção de financiamento pelas agências de fomento e bolsas para os estudantes de graduação e pós-graduação. “Temos motivação, gostamos da pesquisa que desenvolvemos, no entanto, precisamos ser apoiados financeiramente”, acrescenta. 

Pesquisadores do Laboratório de Pesquisa de Têxteis Técnicos (LPTT) da USP. | Imagem: Arquivo Pessoal/Silgia Aparecida Costa.

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