Isolamento de países do bloco deve pautar 3ª Jornada dos BRICS

Evento que, na edição de 2018, reuniu cônsules-gerais de Rússia, Índia, China e África do Sul em São Paulo tem primeiros detalhes anunciados. Reflexos do governo Bolsonaro devem ser objeto de debate

O Grupo de Estudo sobre o BRICS da Faculdade de Direito da USP anunciou mais informações sobre a 3ª Jornada dos BRICS, que ocorrerá no segundo semestre no Largo do São Francisco. O evento anual se propõe a discutir temas do Direito Internacional, Econômico e Diplomático, focando no grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O encontro tradicionalmente conta com a presença de diplomatas, membro do Itamaraty e representantes do corpo consular dos países do bloco. Além disso é comum que as datas marquem um intercâmbio entre os alunos de universidades dos cinco países que buscam manter contato e fortalecer laços acadêmicos e profissionais em escala global. “Eu acredito no BRICS, acho que é uma iniciativa interessante e uma grande mudança do contexto internacional ocorrida em tempos de paz. As grandes reformulações normalmente acontecem depois de guerras extensas e complicadas. A ONU e FMI, por exemplo, foram criados pós-Segunda Guerra Mundial. O BRICS é uma mudança que ocorreu sem guerra armada, no sentido clássico de exércitos bombardeando um ao outro. É um conflito econômico. Há uma clara vontade de mudar o sistema financeiro internacional”, comentou o coordenador do Gebrics, Paulo Borba Casella.

Em uma prévia dos debates que ocorrerão na FDUSP o Gebrics participou, no final de maio, de um seminário sobre seu tema de estudos na sede do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas, em Brasília. Na ocasião, além dos acadêmicos, houve presença de membros dos governos envolvidos. Um dos objetos de maior debate e que tende a pautar as discussões da Jornada foi a notória desaceleração econômica ocorrida nas nações do grupo. Alguns dos dados apresentados indicam que na primeira década do século 21 as importações e exportações entre países parceiros cresceram, respectivamente, 42% e 43%. Desde 2010, porém, tais taxas decaíram para 5% e 3,3%. O novo alinhamento diplomático vivenciado pelo Brasil desde a posse de Jair Bolsonaro também deve ser abordado, de modo a avaliar como a nova postura do Ministério das Relações Exteriores pode impactar na relação com os diferentes Estados.

Casella ainda comentou a macrocefalia econômica que o protagonismo chinês vem causando no bloco, já que segue mantendo seu crescimento ao passo que países como o Brasil enfrentam longa recessão. Além disso, o professor de Direito Internacional citou as variações que podem ser notadas a cada reunião de cúpula e que são objetos de debate das Jornadas. A próxima reunião está marcada para novembro, em Brasília. “Diversamente de outros acordos internacionais que criam comissões, secretarias e parlamentos, o BRICS não possui um tratado constitutivo até agora. Há reuniões anuais de cúpula e as declarações feitas no encerramento das reuniões, e é muito interessante cotejar de um ano para o outro o quanto que elas evoluíram e ampliaram e aprofundaram suas pautas”, comentou.

Além do início do governo Bolsonaro, o ano de 2019 vem sendo agitado por eventos como a reunião de Rússia, Índia e China com os EUA sem a presença do Brasil, como o encontro do G20, no Japão. O encontro a quatro feito por Donald Trump, Vladimir Putin, Xi Jinping e Narendra Modi é tido por analistas como um sinal de isolamento brasileiro.

A 3ª Jornada dos BRICS ocorrerá durante os dias 28, 29 e 30 de outubro. Em 2018 houve participação de palestrantes como Evandro Menezes de Carvalho, professor da FGV/Rio e editor-executivo chefe da China Hoje, diversos professores da Universidade Estatal de São Petersburgo (Rússia) e a presença do cônsules-gerais de Rússia, Índia, China e África do Sul em São Paulo. As novidades da edição de 2019 podem ser conferidas na página do evento e no endereço do Gebrics.

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