Ação do Samu reduz mortalidade por infarto no ABC

Pesquisa revelou que a presença do serviço, aliada a outros fatores, implica tratamentos mais eficientes

Imagem: Reprodução (www.saude.gov.br)

A função do atendimento pré-hospitalar é o socorro imediato e o encaminhamento da vítima à unidade de saúde mais adequada, serviço realizado pelo Samu no Brasil. Esse foi o tema do doutorado de Cátia Cristina Martins de Oliveira, aprovado este ano pela Faculdade de Medicina (FM) da USP, no qual se buscou investigar quanto a ação do Samu pode realmente interferir no desfecho de casos, diminuindo o número de óbitos. Para isso, a especialista em saúde pública escolheu analisar o serviço na área do Grande ABC Paulista (Região Metropolitana do Estado de São Paulo composta por sete municípios), onde o Produto Interno Bruto (PIB) é elevado, mas o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que inclui a expectativa de vida, é muito heterogêneo entre os municípios.

Municípios que compõem a região do Grande ABC. Fonte: Coordenadoria de Planejamento em Saúde. Secretaria Estadual de Saúde, 2012

Condições sociodemográficas e de saúde desses municípios em 2010. Fonte: Departamento de Informática do SUS (Datasus) e Projeto de Regiões e redes

Na área selecionada, estudou o atendimento de emergência do Samu, observando casos de Infarto Agudo do Miocárdio, popularmente referido como ataque cardíaco. Nos últimos 15 anos, ele vem sendo a principal causa de morte isolada na região. 

O Samu 192 (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) é o principal representante nacional do atendimento pré-hospitalar, com modelo de funcionamento importado da França e vinculado ao SUS (Sistema Único de Saúde). Como transporte, esse tipo de serviço é importante para reduzir o tempo resposta entre a necessidade do paciente e a sua entrada na unidade de saúde. Ele também atua no próprio local, o que reduz o tempo entre a emergência e o início do atendimento médico. São objetivos do atendimento pré-hospitalar a redução da mortalidade, do tempo de internação e de sequelas. 

Analisando os dados, Cátia observou uma melhora na taxa de mortalidade, nos hospitais e fora deles, por infarto após a introdução do serviço na região. Sobre isso, ela comenta: “Outras intervenções podem também ter sido implementadas nesse período e ter também contribuído para a redução do Infarto Agudo do Miocárdio”. Para que pudesse ter maior certeza de que a melhora tinha relação com o Samu, ela precisou observar em paralelo uma região controle que não contasse com esse atendimento. A área selecionada foi a baixada santista, por possuir características semelhantes às do Grande ABC. Só então veio a confirmação estatística da contribuição do serviço na redução dessas taxas de mortalidade (hospitalar e externa).

Em 2004 o Samu foi implantado em Santo André, e entre 2004 e 2005 expandiu-se para todos os municípios da região. A tabela contempla indivíduos de 40 anos. Fonte: Datasus

Cátia analisou um material coletado por método misto, ou seja, que mescla aspectos quantitativos e qualitativos. Os primeiros se referiam à taxa de mortalidade por Infarto Agudo do Miocárdio antes e depois da implementação do Samu na região, avaliando possíveis efeitos imediatos e sequenciais após sua introdução. “Mas além de usar esse método quantitativo, eu agreguei um método qualitativo através de entrevistas semiestruturadas [ou seja, sem um roteiro engessado] com médicos reguladores, gestores e médicos e enfermeiros do atendimento do Samu para compreender o que eles achavam sobre o desempenho do serviço na região”, disse a pesquisadora.

Por meio das entrevistas, ela queria saber qual era a percepção deles em relação ao potencial do Samu para contribuir na taxa de mortalidade do IAM. Ela afirma que “apesar de muito reconhecido na literatura [científica] internacional, esse método ainda é pouco explorado no Brasil.” 

Na região do Grande ABC, o funcionamento do Samu apoia-se em três dimensões, sendo elas regulação, assistência e gestão. Os citados médicos reguladores fazem parte da primeira, nas centrais de regulação, que recebem os pedidos e acionam o serviço das ambulâncias que contam com equipes capacitadas. “Elas estão interrelacionadas e são fundamentais para que o Samu opere”, esclarece Cátia.

Dimensões que dialogam para a organização do Samu no ABC. Crédito: Cátia Cristina Martins de Oliveira

Ela concluiu, como ambas as fontes, qualitativas e quantitativas apontaram, que o Samu é parte de um conjunto de fatores que colaboram para o êxito do desfecho do atendimento médico do paciente de ataque cardíaco. Além disso, ela afirma que atualmente existem muitos sistemas de informação disponíveis para verificar os efeitos de intervenções implementadas no âmbito do SUS, com dados sobre os momentos anterior e posterior à sua introdução. Por isso, alega que esses materiais deveriam ser mais utilizados por profissionais do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de saúde para que haja um processo avaliativo contínuo de aperfeiçoamento dos seus programas.

Cátia também pontua que “o Samu é uma política do Ministério da Saúde que vem priorizando uma condução regional. Existe a necessidade de discussão do serviço no âmbito regional para fortalecer e potencializar seus resultados. Para isso, os gestores precisam dialogar mais na região”. 

Entre os temas tratados, deveria estar, por exemplo, a maior utilização da telemedicina para auxiliar o diagnóstico do Infarto Agudo do Miocárdio e a questão da disponibilidade dos leitos. “Nem sempre que o médico da central de regulação aciona as vagas disponíveis no sistema elas estão de fato disponíveis, e, às vezes, no próprio sistema, elas faltam”. A disponibilidade de leitos em tempo oportuno precisa ser aprimorada, segundo a pesquisadora, porque “isso vai reduzir o tempo resposta, o tempo de entrada do paciente na unidade e, consequentemente, impactará o desfecho do caso dele.”

Nas entrevistas feitas pela pesquisadora, foi relatado que há uma imprecisão da queixa do infarto por parte dos usuários, o que acaba interferindo na tomada de decisão e no despacho da ambulância. Por isso ela defende a importância de melhores campanhas de conscientização na região sobre o papel do Samu no SUS: “Isso deve ser bem trabalhado, colocando quais são os objetivos do serviço, quando ele deve ser chamado —  em situação de urgência e emergência, em particular no caso do AVC e do Infarto Agudo do Miocárdio, divulgando os sintomas desses agravos — para reduzir o tempo de chamada pelos pacientes.”


Para saber mais sobre os direcionamentos em relação à utilização do Samu, acesse o link: ttp://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/servico-de-atendimento-movel-de-urgencia-samu-192

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