Mesmo com o avanço da tecnologia na medicina, casos de rejeição de órgãos ainda são frequentes. Diversos fatores influenciam esse procedimento, como a obesidade. Em outros países, por exemplo, pessoas com obesidade mórbida são retiradas de listas de transplantes pois os médicos acreditam que esses indivíduos têm chances maiores de rejeitar o órgão. Entretanto, não há nenhum dado científico que comprove essa suposição. Fernanda Terra, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, desenvolveu um estudo que busca entender qual o papel da obesidade no contexto da rejeição de transplantes experimental, usando o de pele como o modelo.
Os testes foram realizados em camundongos. O ganho de peso era induzido nos animais através de uma dieta hiperlipídica. Outro animal, o doador, era submetido a eutanásia e pedaços de pele da cauda eram coletados. Os animais receptores, tanto magros quanto obesos, recebiam o transplante da pele no dorso. Esse procedimento era feito com animais geneticamente diferentes para que a rejeição realmente acontecesse, acompanhada visualmente através da inflamação e necrose do tecido. “Os animais obesos rejeitaram o enxerto mais rapidamente do que os animais magros. Então o fato de ser obeso é um fator negativo para o transplante de pele”, relata Fernanda.
A principal etapa da pesquisa era entender o porquê isso acontecia. “Vimos que os animais obesos tinham mais células T, do tipo TH17 (subtipo celular), em comparação ao animal magro”, explica a pesquisadora. As células T pertencem ao sistema imunológico e tem a capacidade de reconhecer diferenças muito pequenas entre as células do doador e do receptor, sendo as principais causadoras da rejeição do enxerto. O aumento das TH17 pode ser uma justificativa para a condição.
Outra etapa do estudo foi analisar o impacto da microbiota dos animais no processo, sabendo-se que os gordos rejeitaram o transplante mais rápido. O fato de a microbiota de animais obesos e magros ser diferente, motivou a análise. Os camundongos foram tratados com antibióticos de amplo espectro para diminuição da diversidade e quantidade de bactérias da microbiota e, em seguida, o transplante foi realizado. Os magros rejeitaram mais rápido. Já os obesos demoraram mais. Isso pode sugerir que a microbiota tem um papel negativo para o transplante, “porque o tratamento de antibióticos com animais obesos prolonga a sobrevida do enxerto de forma similar a sobrevida de um animal magro”, pontua Fernanda.
De acordo com a pesquisadora, a investigação tem extrema relevância pois traz grandes contribuições fornecendo bases para entender se a obesidade tem impacto na rejeição e, futuramente, podendo fomentar estudos clínicos para saber se isso também pode se aplicar aos humanos.
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