Professoras lésbicas enfrentam desafios ao discutirem sexualidade em escolas

Ilustração: Pixabay

“O que é ser lésbica no ambiente escolar?” foi uma das perguntas que nortearam a tese de doutorado de Tatiana Carvalho de Freitas, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. A pesquisa buscou entender como essa temática impactava os professores, uma vez que, o foco está majoritariamente nas dificuldades dos alunos vinculadas a essa questão.

A resposta, claro, é subjetiva. “Isso vai depender da mulher, de como ela enxerga a sua sexualidade, de que lugar de São Paulo ela está, de que escola, de que direção”, relata a pesquisadora. Um exemplo é uma professora que Tatiana entrevistou, a qual mesmo com uma postura esclarecida da sua relação com a sexualidade, consigo mesma e com as demais pessoas, agia de maneira diferente dependendo do local de trabalho, devido à coordenação e a demais fatores externos.

A professora define essas trajetórias pessoais como desafios, por todos os pensamentos que circundam esses profissionais na hora de abordar a temática. Existe preocupação em como vão usar as palavras, como essas palavras podem criar margens para interpretações. “A homossexualidade nunca é presumida, é sempre a heterossexualidade”, afirma. O medo também deve ser levado em conta.

Tatiana aborda a cobrança que se faz do docente. A necessidade de falar sobre homofobia com os alunos, mas ainda ser um tabu revelar a sexualidade em sala de aula, tendo que ocultar um fato. “Não que tenha que esconder, mas no cotidiano, fica nessa zona cinzenta.”

Além disso, um ponto interessante que a pesquisadora traz é do papel da professora estar muito associado à maternidade, mas, por não ser heterossexual, essas relações mudam. Isso pelo fato da homossexualidade, mediante interpretações, trazer uma ressignificação do que é ser mulher, com a ideia de os cuidados não estarem ligados a uma mulher por ela ser lésbica.

A pesquisadora entrevistou seis professoras do estado de São Paulo e tinha um pressuposto ― baseado na literatura internacional na qual mais encontrou pesquisas relacionadas ao seu estudo ― pautado em medos e perseguições que os relatos traziam. Gostou de ouvir que essas professoras conseguiram construir visibilidade de forma positiva, de poder falar sobre a sexualidade, discutir isso com os alunos e, de até certo modo, tornarem-se referências para alunos de diferentes orientações sexuais.

Tatiana ressalta a importância do estudo, devido ao senso comum da sociedade de que, ao se abrir sobre a sexualidade, o professor estará influenciando o aluno. “Meu pai é hétero, minha mãe é hétero, todo mundo é hétero na minha família e eu sou lésbica, quer dizer, ninguém me influenciou a ser lésbica”.

Ela se alarma ao pensar que ainda é preciso discutir isso e revela certo receio em como a sua tese pode ser recebida. Para ela, a escola seria um ambiente muito mais saudável se pudesse se abrir sobre a sexualidade e mostrar o quão normal é ter uma orientação sexual diferente. E se a escola não estiver aberta a isso, nunca estará preparada para discutir esse assunto. “Se você não ocupa os espaços que você tem, você vai deixando cada vez mais para ser ocupado por um discurso ultraconservador”.

A estudiosa conclui sua ideia afirmando que não vê outra forma de desfazer os preconceitos, a não ser falando da temática. “Cada um com as ferramentas que tem, você publicando uma notícia, pesquisador pesquisando, artista cantando. Enquanto a gente pode, a gente tem que falar”.

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