Internet monitora saúde de árvores ao conectá-las à plataforma digital

[Imagem: Laura Scofield/AUN]

A queda de árvores é um problema comum nas cidades brasileiras. Só entre o período de 1º de janeiro até 7 de março de 2019, a Defesa Civil atestou que 2.868 árvores caíram na cidade de São Paulo, o que equivale a cerca de 43 troncos por dia. É para entender um pouco mais sobre a saúde dessas plantas, além de mapear suas possibilidades de queda, que surge o projeto IoTrees. Este integra os conhecimentos de computação com as áreas de Biologia e Botânica.

A iniciativa faz parte de algo maior: o InterSCity. De acordo com Fábio Kon, o coordenador do projeto, “a ideia é usar a Tecnologia da Informação e Ciência da Computação para melhorar a qualidade de vida nas cidades”. Isso é feito com pesquisas de temáticas variadas, colocando o IoTrees dentro de um amplo núcleo de produção de conhecimento a ser aplicado na sociedade.

IoTrees é o nome comprimido para Internet Of Trees, projeto encabeçado pelo pesquisador Antônio Deusany. A intenção do mesmo é desenvolver um aparato – hardware – que seja capaz de medir os estímulos vitais e o microclima das árvores. Para isso, é necessário um conjunto de sensores, que, acoplados, formam a sensor station. Eles se fixam à árvore, coletando dados para enviar, via radiotransmissão, a outro aparato, a base station. Essa inicia o processo de interpretação das informações recebidas e as transmite, por meio da internet, para a nuvem.

Antônio Deusany trabalhando no laboratório do IoTrees. A estrutura branca maior (no canto inferior direito) é a sensor station, enquanto a estrutura menor (mais ao centro da imagem) é a base station. [Imagem: Laura Scofield/AUN]
Antônio ressalta a importância da estrutura do InterSCity dentro deste processo, sendo que é ela quem recebe e interpreta os dados coletados. “É uma plataforma para a cidade ser inteligente, de modo que ela consegue analisar vários tipos de dados diferentes e correlacionar todos eles”. Depois, cabe a ele organizar as informações para que sejam acessíveis aos pesquisadores de outras áreas, menos acostumados com as plataformas mais específicas à computação.

A ideia do projeto veio a partir da necessidade de se medir a saúde das árvores de forma barata e sem a importação de produtos. O sensor ao qual a botânica geralmente tem acesso custa cerca de 2 mil dólares, o que torna o monitoramento de árvores pela cidade inviável – por motivos que variam de risco de roubo até danificação do aparato por pessoas ou animais. Já o desenvolvido pelo IoTrees custa cerca de 300 reais, sendo formado todo por peças acessíveis e de fácil acesso.

Porém, isso também traz um empecilho: os sensores utilizados são mais difíceis de calibrar, o que configurou certa dificuldade ao processo de fabricação do hardware e exigiu expertise técnica. Antônio explicou que, atualmente, existem três estações já funcionando, todas localizados em árvores do Laboratório Lafieco do Instituto de Botânica da USP. Outras sete estão em processo de calibramento.

Modelo de uma sensor station. Cada um dos sensores se conecta a uma parte da árvore, sendo o lugar escolhido a partir das características da medição. O cabo azul serve para carregar o sensor. [Imagem: Laura Scofield/AUN]
Para medir a saúde e nutrição das árvores, o hardware é projetado para coletar dados a respeito da temperatura e umidade do ambiente, umidade do solo, fluxo de seiva, temperatura da superfície foliar e luminosidade. Cada um desses parâmetros conta com um processo de aferição específico, que leva em consideração a anatomia da árvore e sua interação com o ambiente. Assim, a relação com a botânica foi muito importante. Janaina Silva, que estuda Bioinformática, foi quem estabeleceu “a ponte de comunicação entre os aspectos tecnológicos com o significado biológico dos dados.”

O projeto se encaixa em um momento em que a Computação se esforça para economizar energia e evitar gastos desnecessários. Isso gerou consequências práticas, que vão desde o funcionamento e modo de carga de cada um dos sensores até a escolha por desenvolver hardwares e softwares abertos, ou seja, com seu código e material de livre acesso a outros pesquisadores. Tais escolhas configuram um novo momento, bem simbolizado pelo InterSCity, que busca trazer outros aspectos da Computação para o cotidiano das pessoas e gerar qualidade de vida a partir disto.

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