A escova progressiva – também conhecida como alisamento ácido – modifica a estrutura química do cabelo, tanto externamente (cutícula), quanto internamente (córtex). Ao utilizar o ácido glioxílico complexado com carbocisteína, ela age na estrutura capilar e modifica a conformação da queratina no córtex. Além disso, o aquecimento presente no processo de aplicação forma um filme plástico no fio, recobrindo as cutículas, o que confere brilho e ajuda a repelir a água. Tais efeitos acontecem como consequência do formol que é liberado por tal ácido.
Por isso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabelece algumas regras e exige que os produtos sejam registrados antes de chegarem aos consumidores, a fim de garantir qualidade e a segurança de todos. De acordo com o órgão, escovas progressivas não podem conter ácido glioxílico complexado com pH (potencial de hidrogênio) inferior a 2,0, devido ao seu efeito corrosivo e provável dano ao consumidor. Porém, muito se discute os efeitos, complicações ou benefícios de se usar o produto com pH igual a 1,0, como muitas vezes é defendido pelos fabricantes.
Este foi o tema de mestrado de Alessandra Mari Goshiyama, orientada pela professora Maria Valeria Robles Velasco, do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Em entrevista concedida à AUN, Maria explica que o trabalho foi pioneiro no campo e teve resultados interessantes para a área cosmética. “Muitos pedem para que a escova progressiva seja feita com produtos com pH inferior a 2,0 porque alisa mais. Agora dá para comparar o maior alisamento com as consequências que podem acontecer”, conta a pesquisadora.
Ainda de acordo com ela, a escova progressiva facilita a penteabilidade dos fios, em comparação com o cabelo virgem – sem nenhum tipo de produto ou tratamento. E com o ácido glioxílico complexado com carbocisteína de potencial de hidrogênio igual a 1,0, os resultados são ainda mais expressivos. Nesse pH, o trabalho necessário para pentear o cabelo foi 59,4% menor do que o necessário para pentear o cabelo virgem, enquanto que com pH 2,0 essa força foi apenas 33% inferior. Essa facilidade para pentear os fios decorreu do maior alisamento obtido. “Quanto mais liso o cabelo, mais fácil para deslizar o pente e, assim, o trabalho é menor”, explica a professora. Contudo, alguns resultados negativos também foram observados pelas pesquisadoras.
Essa formulação de escova progressiva no pH 1,0 fez com que o cabelo quebrasse mais facilmente. A resistência do fio contra quebras diminui em 15,8% com o produto nesse pH, enquanto que essa resistência foi apenas 8,7% menor com a mesma formulação no pH 2,0. Isso demonstrou que um pH inferior a 2,0 representa maior risco de quebra de cabelo, que “pode ocorrer quando uma pessoa penteia seu cabelo, faz escova ou usa a ‘chapinha’”, conta Maria.
Além disso, a variação de cor do cabelo, após a aplicação da escova progressiva, também foi maior quando se utilizou o ácido glioxílico com carbocisteína na formulação de pH 1,0. Segundo a pesquisadora, um cabelo com coloração artificial pode ter seu tom alterado. “Uma coloração de tom castanho pode ficar com um tom mais avermelhado após a aplicação, por exemplo”, explica ela.
Maria também ressalta que tais resultados são variáveis de acordo com a espessura do fio: “Fios mais finos sofrem mais com os danos da escova progressiva”.
Assim, as pesquisadoras concluíram que a escova progressiva com o ácido glioxílico complexado com carbocisteína no pH 1,0 faz com que o cabelo fique mais liso e seja mais fácil de ser penteado. Porém, esse processo também pode ocasionar maior quebra do fio de cabelo, variação no tom de cor e mudanças na estrutura capilar, o que diminui a saúde dos fios. “O produto com pH 1,0 é melhor para o alisamento, mas diminui a saúde do cabelo”, enfatiza Maria.
Ainda de acordo com ela, os resultados obtidos na dissertação foram pioneiros na área de alisamento ácido, e serão muito importantes nas discussões sobre a nova regulamentação brasileira dos alisantes capilares. Até o momento, a Anvisa proíbe a utilização do produto com pH inferior a 2,0 apesar de haver interessados em modificar essa determinação.
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