Plataforma online busca melhorar a qualidade de vida na cidade por meio da tecnologia

InterSCity fornece dados integrados da cidade para desenvolvedores de apps; o objetivo é ajudar prefeitos e cidadãos a gerirem melhor os recursos disponíveis

Foto:interscity.org

A tecnologia e desenvolvimento da humanidade não chegaram ao homem sem um custo. Os problemas causados pela superpopulação são inúmeros. Poluição de rios e ar, trânsito, desigualdade social e caos na saúde pública são alguns dos desafios enfrentados por todos os prefeitos de grandes cidades espalhadas pelo mundo. Pensando em formas de ajudar gestores e desenvolvedores de softwares a melhorar o gerenciamento de cidades, Arthur de Moura Del Esposte, do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME-USP), desenvolveu um programa de código aberto de suporte às cidades inteligentes, a InterSCity.

Na contramão da maior parte das plataformas para cidades inteligentes já existentes no mercado, a criação da InterSCity procurou oferecer um software livre de código aberto e um sistema que trabalhasse a escalabilidade. Essas características eliminam a dependência de um fornecedor específico e deixam o programa pronto para trabalhar com um número crescente de usuários e tráfego de dados, essencial para o bom funcionamento em uma cidade como São Paulo, por exemplo. “[Software livre de código aberto] é muito importante para qualquer cidade que vai adotar uma tecnologia dessa. Além disso, essa ferramenta dá a oportunidade para a própria população se empoderar da tecnologia que está sendo utilizada pela cidade”, completa.

A InterSCity surgiu então para facilitar a vida de desenvolvedores de softwares e aplicativos dedicados a melhorar a qualidade de vida nas cidades. A ferramenta integra dados oferecidos por diversos serviços e sensores em um único canal e possibilita uma melhor gestão de recursos e melhora nos serviços oferecidos aos cidadãos. Os interessados em construir novos aplicativos podem encontrar de forma fácil os dados disponibilizados pelos sensores espalhados por toda a cidade.

Segundo o pesquisador, a plataforma trabalha como uma camada de abstração, capaz de facilitar o caminho até os dados. “Imagine que você tem milhares de sensores na cidade. Cada um se comunica com uma tecnologia diferente e cada um deles representa o dado de uma forma diferente. É muito complicado para você fazer todas essas aplicações conversarem entre si. Ao invés desses aplicativos se comunicarem com cada tipo de protocolo específico, ele se comunica diretamente com a nossa plataforma e ela então abstrai toda essa comunicação”, explica.

Motivado pelos desafios da engenharia de software, Arthur viu nas Cidades Inteligentes um grande desafio e uma boa oportunidade para testar novas propostas de software aberto de gerenciamento de dados. As Cidades inteligentes (ou Smart Cities) surgiram para tentar lidar com os problemas deixados pela urbanização desenfreada, utilizando tecnologia de informação, ferramentas e plataformas disponibilizadas pela Internet das Coisas, termo utilizado para designar a utilização de objetos da vida cotidiana para armazenar dados e facilitar a vida do usuário.  

Diversos apps já foram desenvolvidos utilizando a plataforma como ponto de referência. Dentre eles estão aplicativos para monitoramento das linhas de ônibus, busca de vagas de estacionamento, simulação da situação dos semáforos, levantamento da utilização dos sistemas públicos de saúde e detecção dos melhores pontos da cidade para a prática de exercícios físicos.

Na imagem, exemplo de aplicação alimentada pelos dados da InterSCity Foto: interscity.org

Durante sua dissertação, Del Esposte buscou na arquitetura de microsserviços a solução para os problemas enfrentados pela maior parte das plataformas de cidades inteligentes. Permitiu o desenvolvimento dos municípios e a criação de uma ferramenta que se integra para compor funcionalidades complexas como:  gerenciar dados de sensores e comandos de atuação, catalogar os recursos da cidade e facilitar a comunicação com dispositivos externos.

A característica de software aberto traz ainda o benefício de contribuições externas para a melhoria da ferramenta. Diferentes grupos de estudo e pessoas podem fazer parte da construção da plataforma, o que aumenta a colaboração entre grupos de programadores e a torna mais participativa. Atualmente, colaboradores trabalham para melhorar a área gráfica de interface e o desenvolvimento do software, aprimorando questões como a geolocalização de sensores e novos suportes, todos respeitando a escalabilidade da plataforma.

Afastado do projeto desde junho passado, quando defendeu sua dissertação, o pesquisador afirma que foram vários os avanços na utilização de microsserviços para desenvolvimento de plataformas de cidades inteligentes e nas formas de avaliar a escalabilidade da ferramenta, com o uso de simuladores. “Algumas pessoas estão trabalhando com essas partes que faltam. Para ser realmente implantada em uma cidade real ainda existem várias questões de segurança que devem ser tratadas”, conclui.

Simulação de sensores da cidade de São Paulo Foto:interscity.org

Em 2016, o artigo InterSCity: A Scalable Microservice-based Open Source Platform for Smart Cities, parte do trabalho do grupo de estudos do Centro de Desenvolvimento de Software Livre, foi premiado no congresso SmartGreens, em Portugal. Para colaborar com a InterSCity ou conhecer a aplicação acesse http://interscity.org/.

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