O Radiotelescópio Bingo está sendo desenvolvido no Brasil em parceria com universidades do mundo todo. Ele será capaz de observar a parte escura do Universo e seus dados representarão ganhos gigantescos para a ciência. Sua construção começa em 2019, na Serra do Urubu, próximo ao município de Aguiar, na Paraíba.
Com apenas 5.500 habitantes, a cidade foi escolhida devido ao seu silêncio eletromagnético, isto é, não há nenhuma antena de celular na região. A construção do radiotelescópio, cuja estrutura completa é do tamanho do estádio do Maracanã, irá mudar completamente a vida das pessoas da região. “A cidade começará a ser um ponto científico, receberá pesquisadores do mundo todo. Hoje, por exemplo, não há nenhum hotel no local”, explica a pesquisadora Graciele de Oliveira.
Pensando nessas mudanças sociais e no impacto que a construção terá, uma parte dos pesquisadores responsáveis pelo Bingo se preocupam apenas com a divulgação científica do radiotelescópio e com a preparação dos moradores da cidade. Graciele de Oliveira faz parte deste grupo. “Um projeto tão interessante não pode ficar só na academia, é essencial que seja divulgado.”
O projeto ainda tem a colaboração de pesquisadores do curso de Educomunicação da Escola de Comunicações e Artes da USP, da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, e também especialistas em jornalismo científico da Unicamp.
Para trabalhar a educação através do Bingo, os pesquisadores, coordenados pelo professor Luciano Barbosa, estão frequentando as escolas da cidade. “A gente não pode simplesmente chegar lá e construir, temos que conversar com a sociedade, entender o que eles querem e, assim, desenvolver o processo em conjunto. Essa educação não pode ser vertical”, explica Graciele.
De 15 em 15 dias, um grupo de 40 pesquisadores fazem dinâmicas nas escolas públicas de Ensino Fundamental II e Ensino Médio da região. “Primeiro eles fizeram uma apresentação geral e, a partir de agora, querem trabalhar sobre o que é o projeto e o que é cosmologia e astronomia.”
Trabalhar com estes temas permite englobar quase todas as áreas. Graciele explica que, através da Astronomia, é possível ensinar conceitos matemáticos, como escala e distância, física, geografia, história e até arte. “Mais do que mudar a ciência, o Bingo quer levar esses conceitos para as escolas e mudar a sociedade. Mostrar que produção científica é muito importante.”
A proposta de educação e comunicação científica desenvolvida através do Bingo foi apresentada no Camp Serrapilheira, um evento de divulgação científica do Instituto Serrapilheira, no Rio de Janeiro, que oferece bolsas de até 100 mil reais por um ano para os projetos selecionados. “Nós apresentamos todas as áreas de divulgação, a parte de arte educação, as oficinas para alunos e professores, a área audiovisual e fomos o único da USP selecionado para a segunda etapa.”
Em São Paulo, na região de Osasco, o grupo de pesquisadores do Bingo também está visitando as Etecs para oferecer palestras sobre o método científico, como fazer pesquisa e, em seguida, falar do Radiotelescópio. No entanto, o contato das crianças da Paraíba é muito maior, dado a frequência das dinâmicas.
“Em uma das escolas visitadas em Aguiar eles não tinham energia elétrica. É muito desafiador ensinar conceitos astronômicos sem ferramentas que usam energia. Por isso é tão importante que a construção do radiotelescópio também sirva para desenvolver a cidade”, comenta Graciele. “Estamos fazendo todo um material audiovisual em cima deste projeto, mas de que isso adianta se a própria população da cidade não vai poder consultá-lo? Temos que pensar em formas alternativas de ensino.”
Segundo a pesquisadora, é essencial não esperar o Bingo ser construído para começar a divulgação científica. “Não podemos só mudar tudo e depois explicar o que aconteceu. Esse radiotelescópio será utilizado por mais de 10 anos, a ideia é que façamos com que as crianças se apaixonem por ciência agora e encontrem nessa área um possível futuro. Temos que formar pessoas para a ciência antes da construção terminar”
Outra parte importante do projeto é a inovação que ele gera na indústria brasileira. A engenharia no Brasil não possuía conhecimento para construir a estrutura deste radiotelescópio. Para isso, os engenheiros participantes do projeto aprenderam com pesquisadores internacionais e agora estão adaptando essa tecnologia nas indústrias do país. Todo este conhecimento não é restrito a essa obra e poderá ser utilizado futuramente, para outros projetos.
“Este radiotelescópio vai fazer uma diferença muito grande para a ciência mundial. Por isso, acreditamos que o Bingo pode mudar a cultura científica do Brasil.”
Faça um comentário