Notas não devem definir aprendizado

Pesquisa destaca a importância da avaliação formativa que considera os avanços dos alunos no cotidiano escolar

Mudança no olhar do erro por parte dos professores é importante para implantação de avaliações formativas nas escolas. Foto: Beatriz Gomes

Provas, vestibulares, avaliações, notas. Esses são alguns dos diversos meios que tentam classificar o aprendizado em sala de aula. Mas será que esses métodos são efetivos? Essa dúvida é colocada na dissertação da pesquisadora Nathália Guerra, defendida em 2017, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP).

A pesquisa intitulada Avaliação formativa: um estudo de práticas inspiradoras no ensino fundamental I de uma escola estadual de São Paulo investigou algumas formas de avaliação que tinham características voltadas ao método de avaliação formativa numa escola de ensino fundamental I na cidade de São Paulo. Esse método utiliza formas de avaliar que visam o aprendizado do aluno e não somente a obtenção de uma nota.

Avaliação formativa

A escola pesquisada, referência em sua região, trazia indícios da avaliação formativa, pois os docentes colocam os alunos como seres ativos e protagonistas em sala de aula. Além de realizar atividades com objetivo de fazerem os alunos aprenderem e não somente obterem nota.

Para Guerra, essas atitudes na escola são consideradas como “práticas inspiradoras” porque são ações que vão ao encontro do objetivo da avaliação formativa, onde há o uso de elementos avaliativos que visam o aprendizado dos estudantes. Esses elementos precisam mostrar aos professores o quanto de conteúdo foi adquirido pelos alunos e que seria necessário para, tanto alunos como professores, possam atingir às metas de ensino e aprendizado desejadas.

Na dissertação, a pesquisadora realizou levantamento de dados com relação aos métodos de avaliação formativa ao longo de dez anos, de 2006 a 2016. Ela explica que a ideia da pesquisa é mostrar a avaliação como algo que “seja parte inerente do processo de ensino e aprendizagem” e não um número que define o estudante.

A mestre destaca a necessidade de haver um código, neste caso a nota, que possibilitaria os docentes entenderem como os alunos estão se desenvolvendo em determinados conteúdos. No entanto, o significado deste código ainda não é claro para ambas às partes no processo educativo.

Ela ainda fala da necessidade dos educadores desenvolverem o papel de mediador entre os estudantes e o conhecimento, além de mostrar aos alunos a relevância e aplicabilidade do conteúdo lecionado na vida dos jovens. Isso pode ocorrer através da diluição do conteúdo pelos docentes, que precisam deixar claro aos alunos quais são as etapas necessárias para que eles chegarem ao nível de conhecimento exigido.

Segundo Guerra, outra alternativa é mostrar aos alunos que há possibilidade de erros no caminho do aprendizado. Porém, o educador precisa se colocar em posição de apoiar o aluno, sem puni-lo, e deve propor caminhos para o estudante chegar no objetivo esperado. “O erro do aluno é visto como parte do processo e aprendizagem”.

Papel dos docentes

As avaliações são um conjunto de métodos — como, por exemplo, provas, trabalhos, atividades, teatro, entre outros elementos, que mostram o aprendizado do aluno a partir do que se espera que ele tenha aprendido.

O método de avaliação formativa tem a sala de aula como lugar de atuação. Por isso, a função dos docentes assume relevância pois ao passar atividades para nota, fornecer explicações e dar feedback aos alunos, todos sujeitos envolvidos no processo educativo passam a pensar as práticas de ensino e o significado dos números de uma avaliação.

Segundo a pesquisadora, é possível aplicar provas nas escolas que utilizam o método de avaliação formativa, porém, é necessário repensar os instrumentos já utilizados em aula na tentativa de ressignificá-los. Com isso, ao aplicar o caráter mais formativo nessas atividades, os professores incentivam os alunos a se relacionarem com o conhecimento e pensarem o significado dos números das notas.

Ela explica que os professores precisam “mudar o olhar que tem do erro”, através de formação adequada que possibilitem essa mudança. Além dos profissionais da educação passarem a considerar o que os alunos apreenderam do conteúdo. Isso pode ocorrer através da utilização de instrumentos avaliativos que mostrem onde o aluno está no caminho de aprendizado e não para “provar que ele não sabe”.

A pesquisadora aponta que a função do professor é importante, entretanto, essa responsabilidade não é somente dele, pois o governo e a escola têm o papel de fornecer ajuda financeira, infraestrutura, formação de professores e outras ferramentas que possibilitam que estes possam mudar às suas ideias com relação ao ensino e aprendizagem.

Essa mudança de pensamento ocorreria de forma conjunta, pois os docentes mudariam seus olhares por meio da valorização do aprendizado dos alunos, mesmo que não esteja de acordo com aquilo que se espera. Os estudantes vêem essa mudança, passam a entender a nota como parte do processo de ensino, e não como algo que definiria para sempre o que ele entendeu do conteúdo.

Progressão Continuada

O regime de progressão continuada implantado nas escolas não impõe a duração de um ano para os alunos aprenderem determinada quantidade de conteúdo, mas estende esse tempo de aprendizado a partir da ideia de ciclos escolares. Desde 2014, o estado de São Paulo conta com três ciclos de ensino para o ensino fundamental da rede pública de ensino são eles: da 1° a 3° série, 4° a 6° e 7° ao 9° ano.

Esses ciclos funcionam com o objetivo de os estudantes terem mais tempo para aprenderem os conteúdos que são exigidos pela Secretaria de Educação. Caso chegue ao final do ciclo e o aluno não tenha aprendido o que se espera, o Estado repete o estudante de ano para que ele tenha mais um período para preencher as suas defasagens.

Apesar dessa ideia ser aplicada ao regime de progressão continuada, Guerra explica que isso é problemático pois o estado impõe um tempo igual a todos os alunos que possuem diferentes níveis de aprendizagem e, por consequência, teremos desempenhos diferentes. Ela comenta que o ideal seria não existir esses tempos determinados para reprovar os alunos e o estudo passe a ser entendido como algo progressivo.

Avaliações externas

Guerra disse que, na escola pesquisada, havia a exigência de diversas provas externas que têm propósitos diferentes e influenciam o cotidiano em sala de aula. O objetivo dessas avaliações, como a Prova Brasil e o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), é fornecer dados sobre o desempenho das escolas ao governo ou município. Apesar de analisar o desempenho, esses tipos de avaliações não têm a função de incentivar os alunos a aprenderem e terem relação com os conhecimentos aprendidos nas aulas.

Na escola pesquisada era frequente a ideia de que as avaliações internas, feitas pelos docentes, não seriam tão importantes quanto as impostas pelo governo. Diante disso, a mestre destaca que a escola que utiliza em sua pesquisa não é totalmente formativa, no entanto, utiliza-se de práticas inspiradoras que colaboram com o aprendizado dos educandos, “toda escola tem que partir da premissa que os alunos podem aprender”.

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