Segundo o presidente da Associação Brasileira de Internet Industrial, José Rizzo, em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, no Brasil são instalados em média 1,5 mil robôs por ano. A maioria dessas tecnologias é implementada nos setores da indústria automobilística, alimentícia, eletrônica e química. No entanto, o uso de robôs na saúde cresce e um estudo realizado na Universidade de Friburgo, na Alemanha, sugere novas perspectivas para o uso dessa ferramenta na reabilitação.
A pesquisa, conduzida pelo neurocientista Phillipp Kellmeyer e pelo doutor em filosofia Oliver Müller, aponta a importância de construir uma relação de confiança entre humano e máquina para o desenvolvimento e utilização de inteligências artificiais nas terapias médicas. Tal necessidade se justifica pela tendência ao aumento nas taxas de sobrevivência a doenças que causam diversas limitações físicas, como Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs).
Nesse sentido, o uso de ferramentas como Socially Assistive Robots (SARs) pode contribuir para que essa demanda seja, no futuro, atendida. Essa tecnologia visa dotar robôs com a habilidade de ajudar pessoas através de assistência individual, podendo ser incorporada nos âmbitos da reabilitação, nos exercícios físicos e até mesmo na educação.
Para que isso ocorra de forma segura, no entanto, é preciso estabelecer bases sólidas. De acordo com a chefe do Serviço de Terapia Ocupacional do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP, Maria Cândida Luzo, “o laço de confiança com o paciente é fundamental, sem ele não há plano terapêutico que funcione”.
Com efeito, para que o processo de reabilitação seja bem sucedido, é essencial que o terapeuta crie uma relação de confiança com o paciente e transmita segurança ao utilizar uma ferramenta robótica, principalmente no que diz respeito à previsibilidade do comportamento da máquina. “Quanto mais o paciente compreender o processo pelo qual ele vai passar, mais confiante ele vai estar”, explica Cândida.
A especialista pontua que é fundamental que o terapeuta garanta ao paciente a utilização do aparelho apenas na medida de suas capacidades físicas. Nesse sentido, é necessário que a utilização dessa tecnologia tenha como base o repertório e o contexto do indivíduo, levando em consideração características como a idade e a ocupação do paciente. Para uma criança pequena, por exemplo, o ideal seria trabalhar com aspectos mais lúdicos na reabilitação.
Além disso, o estudo aponta que, para uma boa cooperação entre ser humano e máquina, é de suma importância que o robô seja capaz de reconhecer os motivos e objetivos pelos quais o paciente está passando pelo processo de reabilitação. Tais aspectos filosóficos da psicologia do desenvolvimento são fundamentais para que o paciente consiga se adaptar aos SARs, e vice-versa.
Segundo a terapeuta ocupacional Maria Cândida, entretanto, tais deveres são de responsabilidade do profissional da saúde que conduz o tratamento do paciente. “Quem tem que criar um vínculo de confiança é quem vai acionar o botão”, explica.
A especialista entende que o desenvolvimento dessas tecnologias seja pouco viável, a curto prazo, para serem aplicadas em larga escala. Isso porque tais inovações têm um alto custo e capacitam o indivíduo a executar determinada tarefa apenas momentaneamente, o que não é o ideal, uma vez que pode causar um grande desapontamento no paciente.
De fato, tal frustração advém da expectativa de continuidade daquela função após a terapia. Um robô, por exemplo, pode fazer com que um cadeirante consiga andar, mas após a sessão terapêutica ele voltará para a cadeira de rodas, podendo causar uma frustração ainda maior. “O paciente terá ganhos, mas não exatamente os ganhos que deslumbrou”, afirma Cândida.
Por isso, a melhor opção em curto prazo pode ser a automação. Esse processo se baseia em leituras motoras dos sinais elétricos para fazer com que algo funcione a distância. Desse modo, é o paciente que aciona o equipamento, e não o contrário. Cândida reforça: “É uma coisa menos de fora para dentro e mais de dentro para fora. Não é o ambiente interferindo em você, mas sim você atuando no ambiente”.
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