[1] Por Carolina Pulice, José Paulo Mendes, Julio Viana e Maiara Prado
Em uma pesquisa realizada pelo Instituto de Engenharia e Tecnologia (IET) do Reino Unido, de 2015, 83% dos pais têm dificuldades para responder questionamentos dos filhos quando o assunto em questão envolve o mundo das ciências. Embora não exista um estudo desse gênero no Brasil, é difícil imaginar que o cenário nacional seja melhor que o britânico, evidenciando uma deficiência que pode ser expandida para a nova geração.
Uma das maneiras com que pais e filhos podem aprender mais sobre a ciência é por meio de projetos de divulgação que tentam traduzir a ciência para um olhar mais simplificado. No entanto, iniciativas do gênero ainda estão engatinhando no País e sofrem com a falta de financiamento e incentivos das diferentes esferas governamentais e privadas.
Desde o início do governo de Michel Temer, em meados de 2016, diversos cortes afetaram a ciência, que teve seu ministério próprio anexado à pasta de Tecnologia, Inovações e Comunicações. Além disso, os cortes totais do investimento na área são de grande impacto, reduzindo um valor que era de R$ 8,4 bilhões em 2014 para apenas R$ 2,8 em 2017.
Nem mesmo os protestos das entidades nacionais em defesa da ciência foram ouvidos. Os apelos da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e da ABC (Academia Brasileira de Ciências) não foram respondidos e o cenário de 2018 se tornou ainda mais delicado, chamando a atenção inclusive de publicações nacionais e internacionais, como as revistas Entreteses e Nature.
Segundo a Revista Nature, nos últimos 25 anos houve um avanço significativo da ciência nos países sul-americanos. Dentro desse grupo, o maior destaque fica por conta de Brasil, Argentina e Chile, o qual tem a seu favor o Instituto Millenium de Astrofísica da Pontifícia Universidade Católica do Chile e um grande know-how da área da astronomia.
Entretanto, Brasil e Argentina ganham destaque quando o assunto é o jornalismo científico e a divulgação para além da academia. Segundo o relatório da Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia para a América Latina e o Caribe de 2015, os dois países lideram o número de museus na região, com 18 na Argentina e impressionantes 268 no Brasil, número maior que a soma de todo o restante da América Latina.
As iniciativas de jornalismo científico também são uma área em que o Brasil é pioneiro; desde 1977 existe no país a Associação de Jornalismo Científico (ABJC). Contudo, do mesmo modo que os cortes no orçamento e a falta de incentivos afetam as pesquisas e estudos, os projetos de aproximação e divulgação da ciência também são prejudicados, criando um cenário de dificuldade para semear a ciência pelo País.
Mas nem tudo está perdido; a expansão dos canais de divulgação online vem colaborando para amplificar o alcance e popularizar a ciência. Apesar de reconhecer a importância dos chamados comunicadores digitais, no entanto, Pirula faz ressalvas em relação a tendência atual de supervalorização de canais do YouTube e podcasts, reforçando a necessidade de investimentos em museus e exposições que proporcionem ao público a vivência da ciência: “Esse tipo de divulgação (presencial) é fundamental porque toca as pessoas de uma maneira muito profunda e relevante; há um contato não só com aquilo que se está mostrando, como com o pesquisador, com o aluno ou professor que está lá mostrando. Não há como substituir esse tipo de coisa; seres humanos gostam de contato. Agora, quando você tem outro tipo de contato que é esse da internet, ele é mais amplo; em compensação, ele é muito menos profundo. Não tem o olho no olho, não tem contato físico, não se está vendo a parte prática”.
[1] Todas as grandes reportagens desse ciclo são datadas e foram escritas ao longo do primeiro semestre de 2018 até o seu término.
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