O norovírus é um dos principais agentes causadores de surtos de gastroenterites – infecção intestinal – em hospitais, navios, escolas, hotéis e casas de repouso. A infecção ocorre na maioria dos casos pela ingestão de água e alimentos contaminados, principalmente crustáceos e alimentos que são manipulados e não cozidos, como sanduíches e saladas.
A partir da tese desenvolvida por Caroline Lopes Ciofi Silva, foi comprovada que a melhor forma de desinfectar um piso contaminado pelo norovírus é através da limpeza úmida inicial seguida da desinfecção com hipoclorito de sódio a 1% por dez minutos. Esse produto é muito utilizado nos serviços de saúde pela sua eficácia contra diversos microrganismos, ação rápida e baixo custo.
Apesar disso, o vírus é altamente transmissível por apresentar aerolização das partículas virais, persistência no ambiente, tolerância aos desinfetantes, dose infectante baixa mesmo em indivíduos considerados saudáveis. Além de um alto número de partículas serem eliminadas pelo indivíduo infectado durante os episódios de diarreia e vômito e ausência de imunidade prolongada após infecção prévia.
A aerolização das partículas virais consiste na formação de pequenas partículas aéreas que permanecem suspensas no ambiente e dispersam para outros locais capazes de infectar outros indivíduos. O estudo comprovou que partículas de norovírus podem ser aerolizadas a partir do piso durante a etapa da limpeza, grande avanço obtido pela pesquisa.
A ventilação natural, métodos com luz ultravioleta e vaporização de desinfetantes possivelmente são medidas capazes de minimizar a contaminação pelo ar. Porém, esta área ainda precisa ser melhor investigada em pesquisas futuras, a fim de avaliar o nível de infectividade das partículas norovirus suspensas no ar decorrentes da limpeza e a eficácia dos diferentes tipos de tratamento do ar durante os surtos.
“Tal dado indica a necessidade de revisão das práticas para controle de surtos causados por norovirus, por exemplo, a alteração do tipo de equipamentos de proteção individual, considerando a possibilidade de contaminação dos profissionais de saúde e higiene, além da implementação de métodos para reduzir a contaminação aérea”, explica a pesquisadora.
A pesquisadora ainda comenta a importância das descobertas da tese para outros locais onde ocorrem surtos desse vírus, que saberão o método mais eficaz para descontaminação de pisos. Ainda, profissionais que trabalham na área podem ser alertados para a contaminação aérea e a necessidade de equipamentos de proteção individual.
Para garantir a veracidade do estudo, foram feitos experimentos laboratoriais que simularam uma contaminação do ambiente após derramamento de vômito ou fezes com norovírus humano. As amostras clínicas foram obtidas do acervo do Núcleo de Doenças Entéricas do Instituto Adolfo Lutz, com quem foi firmado parceria. “Esse fato garantiu idêntica semelhança às situações reais vivenciadas nos serviços de saúde, diferentemente de estudos que utilizaram vírus substitutos, que apresentam menor resistência aos desinfetantes quando comparados aos norovírus humanos”, comenta.
O questionamento se o piso deveria ser foco de descontaminação por ser infectado facilmente e não ser tocada frequentemente pelos profissionais instigou Caroline sobre a contaminação aérea a partir da limpeza do piso. Por isso, tinha como objetivo verificar qual protocolo de descontaminação do norovírus seria mais eficiente e se há dispersão de aerossóis com partículas virais após esses procedimentos. Agora, o foco é finalizar a elaboração de artigos científicos para publicação em revistas de abrangência nacional e internacional e continuar a divulgação dos resultados em eventos científicos.
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