Plano viabiliza recuperação da bacia do Jaguaré

Imagem: Conexão Planeta

Uma parceria entre a Escola Politécnica e a Faculdade de Arquitetura da USP abriu possibilidades para revitalização de rios e córregos do município de São Paulo. A partir da elaboração de uma metodologia que mescla o uso de espaços abertos e o manejo sustentável da água da chuva, engenheiros e arquitetos desenvolveram um projeto piloto que se mostrou capaz de ser reproduzido em outras bacias hidrográficas da capital. Um artigo detalhando o estudo foi publicado na revista Labverde.

Com a alcunha de “Projeto Jaguaré”, a ação executada entre o final de 2015 e julho de 2017 faz parte de um empreendimento articulado em parceria entre a Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH), o Labverde e a Associação Águas Claras do Rio Pinheiros. “O pressuposto desse projeto era como fazer uma ação realmente eficiente, de forma a começar a ter água limpa no Pinheiros”, explica Paulo Renato Mesquita Pellegrino, professor da FAU e coordenador da frente de arquitetos envolvida na iniciativa. “Para isso, nada melhor do que pegar uma bacia que deságua no Pinheiros e ver o que acontece, por quê que a água chega suja no rio”.

Outras condições que motivaram a escolha da bacia do Jaguaré como objeto de estudo foram o fato de sua localização ser inteiramente no município de São Paulo e os diferentes níveis de paisagens em sua extensão. A bacia do Jaguaré abriga desde áreas não habitadas até regiões em que o processo de ocupação já está consolidado.

Uma vez escolhida a bacia, o passo seguinte foi efetuar medições dos seus níveis de poluição. Além do tradicional despejo de esgoto, também considerou-se a presença de poluentes difusos, que são os resíduos acumulados sobretudo pela poluição atmosférica na superfície das cidades e levados pelas águas pluviais para os rios. “Eles possuem um grau de contaminação tão grande ou maior que o do próprio esgoto. Por isso foi feita a medição da qualidade da água em vários pontos da bacia, em períodos antes e depois da chuva. Para justamente comprovar ou não essa incidência da poluição difusa na condição da qualidade da água do córrego”, diz Pellegrino.

Para além da qualidade, a quantidade da água também foi um ponto que recebeu atenção. Tendo em mente a possibilidade de inundações, os pesquisadores avaliaram a capacidade do sistema de drenagem atual e formularam alternativas para esse eventual problema. A solução encontrada consiste na implantação de reservatórios para acúmulo da água da chuva. Contudo, ao invés dos tradicionais “piscinões”, a equipe optou por adotar técnicas de Infraestrutura Verde nessas construções: “Queríamos ter áreas que pudessem receber essas águas como os piscinões fazem, mas de uma forma mais integrada urbanisticamente com a cidade, que pudessem ser usadas tanto no período em que estão vazias quanto quando estão cheias”, disse o professor. Convertidos em parques pluviais, os reservatórios também teriam capacidade para efetuar o tratamento das águas.

Outro ponto do projeto prevê o redesenho dos córregos, substituindo as atuais superfícies concretadas por outras que permitem o desenvolvimento natural de fauna e flora, chamadas estruturas de gabião. Essa remodelagem e reintegração dos córregos ao cenário urbano permitiriam a valorização de seus entornos e uma espontânea integração entre população e paisagem.

A reestruturação de córregos os transformaria em espaços de lazer semelhante a parques. Imagem: FCTH/Revista Labverde

“Esse projeto foi apenas uma etapa inicial, mas que já conseguiu ver que é totalmente factível ter essas infraestruturas verdes totalmente aplicadas numa bacia urbana de São Paulo, com grandes possibilidades de sucesso”, comemora Pellegrino. O próximo passo é pôr em prática um projeto-piloto que aplique efetivamente a metodologia calculada.

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