Hierarquias escolares exercem influência para além do ambiente estudantil

Ilustração: Gabriela Teixeira

Uma pesquisa publicada na revista Educação e Pesquisa (disponível no portal de revistas da Universidade de São Paulo) e realizada pelo Instituto de Psicologia da USP (IP-USP) buscou avaliar a presença de hierarquizações no ambiente escolar e seus possíveis impactos não apenas na vida dos estudantes, mas no convívio social como um todo.

Tendo como principal base as teorias do sociólogo alemão Theodor Adorno, que relacionam a experiência colegial e seus reflexos na sociedade, a equipe de pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre o Preconceito (LaEP) investigou um grupo de 135 alunos da rede pública de universidades do estado de São Paulo, analisando por meio de um questionário de dados pessoais as percepções individuais a respeito de suas vivências no âmbito escolar em três níveis de ensino – fundamental II, médio e superior. A partir das respostas coletadas, o LaEP pôde corroborar a existência dos dois tipos de hierarquias: a oficial e a não oficial. “A hierarquia oficial foi definida como a atuação dos alunos nas atividades formais da escola, ou seja, provas, notas, desempenho escolar em geral. Já a não formal está muito ligada com as questões de popularidade, como a habilidade nos esportes e nas questões afetivas. As duas acabam se interligando e influenciando o comportamento dos alunos diretamente”, esclarece Rodrigo Nuno Peiró Correia, membro do laboratório.

Os resultados obtidos demonstraram que, apesar de existir uma independência entre os critérios que compõem as hierarquias, o êxito ou fracasso em algum deles pode repercutir nos demais. Assim, um aluno que possui bom desempenho nos esportes, consequentemente também é mais popular e tem mais sucesso no campo afetivo. Também foi observado que, ao não conseguirem destaque na hierarquia oficial, muitos alunos passaram então a tentar obter alguma notoriedade na não oficial, devido a grande influência exercida pela popularidade na socialização estudantil.

É essa influência, aliás, que em certos casos, acaba por desencadear em episódios de bullying e preconceito. Como explica Correia: “Existem associações de que alunos que se dão melhor na hierarquia não oficial possuem tendência de praticar bullying com aqueles que não se sobressaem na mesma hierarquia”. Ainda, de acordo com ele, tais ocorrências acabam por deixar marcas duradouras em ambos os lados, interferindo em aspectos externos ao meio acadêmico e prejudicando as relações sociais. Como meio de combate a essas situações, Correia enxerga no incentivo da empatia uma boa solução: “Para dirimir os efeitos desiguais das hierarquias, o ideal seria gerar o diálogo, a participação conjunta em debates, com um aluno se colocando no lugar do outro.”

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