Os elementos terras raras compõem um grupo de 17 componentes da tabela periódica, possuindo propriedades químicas semelhantes e um vasto número de aplicações práticas. O termo “raras” não é para designar a dificuldade de encontrá-los no meio ambiente — na realidade, até que são bastante abundantes na crosta terrestre —, e sim pela dificuldade de separá-los a partir de seus minerais.
Por sua importância tecnológica e econômica, diversos grupos de pesquisa surgiram para identificar novos minerais com esses elementos em sua composição e extraí-los. Um projeto de pesquisa internacional na Inglaterra, por exemplo, conta com uma equipe de diferentes países e áreas do conhecimento, inclusive o brasileiro Daniel Atencio. Daniel é mineralogista e professor do Instituto de Geociências da USP. Sua função no projeto consiste em descobrir e caracterizar novos minerais terras raras, isto é, estudar sua composição.
Até agora, após três anos de pesquisa, Daniel conseguiu identificar três novos minerais no Brasil. O primeiro, na cidade de Presidente Figueiredo no Amazonas, foi denominado “waimirita” e é rico em ítrio, um elemento terra rara. O mineral é o primeiro fluoreto descrito no Brasil e o primeiro mineral descoberto no estado do Amazonas. O segundo foi localizado na região de Poços de Caldas, em Minas Gerais, e é rico em cério. O último mineral encontrado por Daniel foi o “parisita”, com composição predominante em lantânio, em Novo Horizonte, Bahia. “Todos são descobertas, novos para a literatura. Com certeza terão alguma aplicação. Porém, é tudo muito inicial. Precisamos conhecer melhor quais são os elementos químicos desses minerais antes de falarmos seu valor econômico”, afirma.
Após ter amostras de rochas, o pesquisador consegue separar os minerais que a compõem e, a partir disso, fazer análises mais extensas de sua constituição. Através de aparelhos de raio-x é possível estudar a estrutura química da amostra e averiguar se existem elementos terras raras em sua formação.
Importância e aplicações práticas
De acordo com Hermi de Brito, professor do Instituto de Química da USP e especialista no estudo dos elementos terras raras, estes possuem utilidade nos mais diversos campos tecnológicos. “Estão presentes nos conversores catalíticos dos automóveis, nas usinas petrolíferas, nos imãs de geradores elétricos, em bioensaios, lasers, displays, lâmpadas fluorescentes, LEDs, OLEDs. Algumas aplicações interessantes são, por exemplo, na área de comunicação por fibra óptica e na biomedicina”, diz.
Além disso, possuem aplicações sustentáveis. “As terras raras contribuem para o desenvolvimento de diversas tecnologias ambientalmente favoráveis, tais como: veículos híbridos, na geração de energia eólica e solar, catalisadores para redução de emissões poluentes por motores automotivos”, acrescenta Hermi. Sem contar com as propriedades luminescentes desses compostos, que ajudaram no desenvolvimento de tecnologia limpa para a iluminação de baixo custo, como as lâmpadas de LED.
Contexto econômico
Segundo o químico, as aplicações dos elementos terras raras vêm crescendo ao longo do tempo e isso pode explicar a sua alta valorização econômica. No cenário global, a China é a maior exportadora desses elementos e “atualmente líder no mercado de terras raras, com domínio de 97% da sua produção mundial”. Pelo alto valor de mercado desses compostos, o país passou a aumentar os preços de venda. Consequentemente, os países que dependiam da importação começaram a organizar pesquisas nacionais para descobrir depósitos de exploração de minerais terras raras.
Foi isso que aconteceu no Brasil, como conta Daniel Atencio: “Nunca houve um estudo de verdade. Nossa pesquisa é praticamente umas das primeiras sobre elementos terras raras. Antigamente, as pessoas não se interessavam em saber sobre isso e não tinham pontos de extração no Brasil. O mundo inteiro, não só o Brasil, começou a estudar melhor as suas rochas e minerais para ver se podia extrair localmente esses produtos e não ter que comprar com “preço de ouro” da China. Esse é um dos principais motivos para que tanto estudos sobre terras raras surgirem recentemente”.
Portanto, a descoberta dos minerais por Atencio pode vir a colaborar no desenvolvimento da exploração de elementos terras raras no Brasil. Caso seja realizada uma exploração efetiva dessas reservas, o Brasil pode se tornar não só autossuficiente como também ter competitividade no mercado da exportação de terras raras”, ressalta Hermi.
Recentemente, a Mineradora Serra Verde entrou com um pedido de licença para extrair elementos terras raras em uma região de Goiás e tem previsão para iniciar suas operações até 2020. Ela constituiria a primeira mina de exploração desses elementos no Brasil. “Caso seja realizada uma exploração efetiva dessas reservas, o Brasil pode se tornar não só autossuficiente como também ter competitividade no mercado da exportação de terras raras”, conclui Hermi.
Faça um comentário