Por definição, o espaço do museu é uma instituição permanente a serviço da sociedade e seu desenvolvimento. O museu universitário, em especial, tem relevante potencial pedagógico, promovendo vivências educativas diferentes, mas também complementares àquelas em sala de aula. Buscando explorar tal potencial, o especialista em Museologia, Maurício Candido da Silva, luta para estruturar um Programa Educativo para o Museu de Anatomia Veterinária (MAV) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP.
A iniciativa de interação com escolas públicas iniciou-se com o projeto “Naturalistas Mirins”, desenvolvido em 2014 pelo trabalho conjunto da equipe do MAV e duas escolas do Ensino Fundamental I na cidade de Miracatu, SP. Nesta experiência, os alunos puderam utilizar o Museu para aprender sobre identificação de animais, conservação ambiental e o respeito e cuidado com a vida. As professoras das escolas participantes também aprenderam sobre o assunto, através da distribuição de um material de apoio didático – chamado “Guia MAV para Professores”. O guia trazia informações sobre a definição de um museu e sua importância, a história e organização do MAV, conteúdos educacionais sobre os temas explorados na visita, e sugestões de atividades pré e pós-visita para os estudantes.
O desafio atual é pensar maneiras em tornar a prática deste projeto pontual em uma atividade sistêmica. Com a incerteza de orçamento, tanto pela não-continuação da parceria educacional pela Autopista, quanto pela baixa disponibilidade de verbas da Universidade e do Estado, a manutenção ou a repetição dessa experiência é indeterminada. O baixo número de funcionários para pensar o planejamento de projetos educativos também afeta esta continuidade.
“Nós temos de retomar. Estou buscando apoio para fazer a reimpressão [do Guia MAV para Professores], e também desenvolver um Guia para o Fundamental II e o Ensino Médio”, conta Silva. “Mas temos que botar combustível para fazer o programa funcionar – e o que venho apostando bastante é em trabalhar com alunos da USP.”
“Naturalistas Mirins”
Idealizado em 2013, a iniciativa foi conduzida ao longo de 2014, com o objetivo de “tornar o ensino não-formal praticado pelos museus um cúmplice do ensino formal desenvolvido nas escolas.” Silva, também coordenador do MAV, revela a importância do projeto: “O Naturalistas Mirins não está acontecendo mais, mas ajudou a estruturar Programa Educativo, que envolve a monitoria e várias outras atividades”, conta ele, que desde 2010 trabalha no crescimento do Museu.
“A minha estratégia é sempre fazer ações que sejam multiplicadoras, que tenham vários benefícios”, disse. Em artigo publicado em fevereiro de 2018 na revista Cultura e Extensão da USP, Silva explica que a relação que se propõe estabelecer com a rede pública de ensino é de mutualismo pedagógico – um sistema visando o benefício de todos os participantes do processo.
A formação de docentes
Alunas de licenciatura em Ciências da Natureza na Escola de Artes e Ciências Humanas da USP, Laís Allana Lima de Oliveira e Ana Paula da Cruz Leite também colaboraram no projeto. Através da elaboração das atividades, do Guia MAV para Professores e da monitoria das visitas, existe uma grande carga de aprendizado para as alunas, que contempla e impulsiona sua formação.
“Verdadeiramente, eles estavam onde queriam estar, buscavam aprender e, na verdade, o que fizeram foi me ensinar do começo ao fim da monitoria”, escreve Ana Paula, em depoimento para o artigo da revista Cultura e Expansão, sobre a reação dos alunos do Ensino Fundamental I durante a visita. A colaboração com alunos de licenciatura é uma aposta de Maurício para a condução do Programa Educativo.
O aprendizado se estende também para as professoras do Ensino Fundamental. Através do diálogo e da elaboração do Guia MAV para Professores, as educadoras puderam compreender o que é um museu, qual seu papel, e como trabalhar pedagogicamente neste espaço. Também receberam sugestões de atividades em sala para expandir o conhecimento adquirido para além do museu, e dessa forma puderam trabalhar a experiência em diversos momentos em sua própria escola, construindo uma verdadeira cadeia de aprendizado.
A parceria no financiamento
Para possibilitar esses benefícios, foi essencial a parceria estabelecida com a empresa Arteris, concessionária da rodovia Régis Bittencourt, que liga as cidades de São Paulo (SP) e Curitiba (PR). O financiamento do projeto – da impressão do Guia até custos logísticos, como transporte e alimentação – deu-se quase inteiramente pela empresa. A colaboração foi possível graças a uma parceria existente há anos entre o MAV e a Arteris, em que equipes da FMVZ recolhem da rodovia corpos de animais silvestres que, em seguida, podem ser utilizados para estudo e exposição.
“Conversando com a gestão da Régis Bittencourt, detectamos que existe uma carência muito grande de programas educativos dentro dessas comunidades,” conta Maurício, explicando a adesão pontual da empresa ao projeto.“Nós consideramos que foi uma operação ganha-ganha-ganha”, avalia o coordenador. “Ganhou a empresa, que obviamente trabalhou [o projeto educacional] na imagem deles; ganhou o Museu, porque desenvolvemos um material pedagógico e impulsionamos o nosso Programa Educativo; e, principalmente, as crianças e as professoras.”
O Museu de Anatomia Veterinária está aberto à visitação de terça à sexta-feira, das 9 às 17h e aos sábados, das 9 às 14h. Confira a página online e apoie a Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo.
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