Projeto Macroalgas explora pela primeira vez a ilha de Anvers

Ilha, mais ao sul do que os habituais pontos de estudo, pode trazer informações importantes sobre espécies de algas

Região é pouco explorada pelos projetos brasileiros no geral devido a certas particularidades climáticas, como frio mais intenso e eventuais congelamentos do oceano, dificultando as operações por mar. Foto: gettyimages.pt

Por Pedro Graminha, da Antártica

No último dia 13, os pesquisadores do projeto Macroalgas Antárticas realizaram, pela primeira vez, coletas na ilha de Anvers, ponto um pouco mais ao sul dos locais habituais de estudo ao longo dos anos. Localizada no paralelo 64, a região é pouco explorada pelos projetos brasileiros no geral devido a certas particularidades climáticas, como o frio mais intenso e eventuais congelamentos do oceano, dificultando as operações por mar.

O arquipélago das Shetlands do Sul – onde encontra-se a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) –, a base brasileira no continente, está localizada na altura do paralelo 62. Mesmo com uma diferença relativamente pequena de dois graus de latitude, o clima mais ao sul é um pouco mais rigoroso: enquanto o verão nas Shetlands foi capaz de derreter boa parte da cobertura de neve das ilhas, em Anvers, ela encontra-se praticamente inalterada.

Com base nisso, os pesquisadores do Macroalgas querem analisar como se comporta a população de macroalgas da região mais ao sul. Após a coleta, encontraram um número menor de espécies, sendo elas pouco menos desenvolvidas do que as algas mais ao norte. Algumas estavam com estruturas reprodutivas avançadas, enquanto o período de reprodução dos exemplares das Shetlands já passou.

Jonatas Martinez, coordenador dos pesquisadores embarcados, acredita que o clima tenha sido um fator de influencia, mas aponta a necessidade de realizar novas coletas ao fim do verão, no final de fevereiro ou começo de março, para efetivamente comparar o crescimento das algas.

“Essas espécies daqui, no geral, tem uma fisiologia muito rápida, se desenvolvem muito rápido no tempo curto que elas têm de verão. Uma coisa agora é comparar o metabolismo das algas lá de cima com as aqui debaixo. Pode ser que elas tenham um metabolismo até mais acelerado.”, aponta Martinez.

Em linhas gerais, os pesquisadores mostram a necessidade de se realizar novos estudos em outras regiões. “É importante buscar pontos de coletas diferentes, principalmente em latitudes maiores, para saber a distribuição florística em toda a região, descobrir se há um ‘limite’ para essas espécies”, explica.

Estudos na Baía do Almirantado

Durante os últimos anos do projeto, além dos estudos fisiológicos e laboratoriais com as algas coletadas, os pesquisadores do macroalgas realizaram uma catalogação das diferentes espécies encontradas ao longo da Baía do Almirantado, região em que se encontra a EACF, dentro da Ilha rei George, a maior dos arquipélago das Shetlands do Sul. Os resultados foram publicados em um Atlas organizado pelos chefes do projeto. No entanto, por mais que conhecimentos significativos sobre as algas da região tenham sido alcançados, ainda há o que ser feito.

“Fizemos um bom levantamento das espécies da região. Mas existem outros estudos. Por exemplo: impacto ambiental, até mesmo averiguar se não há alguma espécie nova”, explica Martinez.

Outro ponto levantado pelo pesquisador é que ainda há alguns trabalhos importantes como estudos de fisiologia in loco que não podem ser feitos nas atuais condições de trabalho no navio. Eles esperam que com a nova base – prevista para ser inaugurada ainda em 2018 –, possam contar com a estrutura laboratorial necessária para esses novos trabalhos.

Poderíamos estudar também todos os períodos, verão e inverno, para ver como se comportam, mesmo quimicamente, comparar algas de uma época com as de outra”, acrescenta.

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