Jornais de bairro e veículos comunitários ainda possuem força na cidade de São Paulo

Os jornais impressos locais continuam sendo consumidos por uma grande parcela da população paulistana, influenciando leitores e promovendo até mesmo o debate político

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Muito antes da internet e da televisão surgirem, era comum nos bairros das grandes cidades a presença de jornais impressos dedicados à cobertura dos acontecimentos locais. Com o passar dos anos e o surgimento de novas mídias, tais veículos tornaram-se cada vez mais raros. Entretanto, nem todas publicações desapareceram das bancas.

Uma pesquisa feita por Luiza Giovancarli, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP mostrou que em São Paulo, atualmente, existem 86 jornais de bairro em atividade, distribuídos entre todas as regiões da capital.

Dos veículos analisados, 67 possuem versões online. Apesar disso, o formato impresso ainda é o principal foco desses jornais e são também o meio de acesso mais utilizado pelos leitores. Juntos, os jornais somam uma tiragem de 1,2 milhão de exemplares semanais, 760 mil de tiragem quinzenal e 232 mil de tiragem mensal, sendo eles, em sua grande maioria, gratuitos. A tiragem é maior que a de jornais de grande circulação, como a Folha de S. Paulo, que possui uma tiragem semanal média de quase 321 mil exemplares, e o Estado de S. Paulo, com 165.740 exemplares semanais.

Do total, apenas oito jornais são exclusivamente digitais, possuindo apenas um portal online. Nesse pequeno grupo, há um fluxo maior de notícias publicadas, uma maior diversidade de tipos de profissionais na redação e também uma grande participação dos leitores na produção do jornal, os quais atuam enviando conteúdo para a equipe.

A resistência desses jornais pode ser justificada pelo seu longo tempo de existência. Dos veículos analisados, 52% existem a mais de 20 anos, o que mostra que há uma tradição e um certo vínculo da população local com esses veículos.

Além de tratar dos acontecimentos locais, os jornais de bairro também atuam como instrumento de debate político, buscando incentivar a mobilização popular, embora aparentem, em sua maioria, seguir uma linha editorial mais conservadora. Isso foi demonstrado através da análise do conteúdo das publicações durante o mês de março de 2016, enquanto perdurava na justiça o processo de Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Dos 86 jornais analisados, 53 abordaram o tema, dentre os quais 27 se posicionaram favoráveis ao impeachment, seja através de editoriais ou textos feitos por colunistas.

A comunicação comunitária

Observando os veículos de comunicação comunitária, os quais inclusive, foram o ponto de partida da pesquisa de Luiza, chama a atenção o grande envolvimento de jovens nos projetos. A pesquisadora também descobriu que, na maioria dos 24 veículos analisados, há presença de comunicadores atuando na produção, o que mostra uma mudança no perfil organizacional dessas iniciativas. “A participação de jornalistas e comunicadores é muito importante para fomentar este tipo de iniciativa”, comenta Luiza. “Antes, [os veículos comunitários] estavam ligados a movimentos sociais, associações de moradores ou ONGs, mas hoje não há mais necessariamente esse vínculo”, completa.

Apesar das diferenças existentes entre os projetos, nota-se um movimento de articulação e construção de identidade entre as iniciativas comunitárias. “É possível observar a existência de algumas parcerias entre eles, buscando construir alguma unidade”, comenta a pesquisadora.

Giovancarli aponta que a comunicação local ainda é um tema negligenciado pela academia, por ser considerado algo menor. Porém, através de sua pesquisa, ela observou e comprovou exatamente o oposto. “A comunicação local vem atuando há muitos anos nos territórios e deve ser discutida no âmbito acadêmico e pela sociedade em geral, a fim de problematizar sua atuação e pensar em novas possibilidades para que os veículos de comunicação local estejam de fato a serviço da sociedade, cumprindo com princípios éticos e de cidadania”, declarou.

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